2 de fevereiro de 2021

 


Um tempo marcante*

      Que sonhos...que esperanças...que utopias...posso alimentar para 2021!

Ora necessito pensar e rever se ainda existem sonhos, ainda existem utopias, se 2020 da forma com se apresentou não apagou, não riscou para sempre essas dimensões.

Talvez meu olhar sobre 2020 possui uma marca angustiante, desafiante, desintegrador, desencantador. Um olhar, com olhar e impressão de muitos.

Nessa dimensão o tempo passou e nada mudou... nada mudou! Mas se mudou o que mudou! Naquilo que quero acreditar ou no que mudou de fato de nossas externalidades, nossas interioridades, de nossas objetividades de nossas subjetividades.

Nesse ambiente nos encontramos, de continuidade pandêmica que assola o mundo. Os números são impressionantes, são preocupantes. Nossa apreensão de mundo vai até a notícia de quem fazia parte dele já não está mais conosco. Como uma peça de um quebra cabeças que não existe mais e que não irá compor a mesma imagem. Agora os desafios estão postos de refazer novas imagens com as peças que temos com as que restaram.

Mãos trêmulas, olhar míope, dúvidas me cercam. É o que tenho no momento, recompondo o corpo, juntando os pedaços, equilibrando a mente em seu componente cerebral para estimular setores do mesmo que não foram estimulados.

Se nada ficou em minha experiência humana nesse único e incalculável experimento que passamos. Se não escondemos a dor que vivemos, a incerteza nos fortaleceu ou nos acovardou?

Acredito no fortalecimento, mesmo diante da escuridão e das incertezas, pois quer queiramos, quer não, temos que continuar, temos que aprofundar o nosso melhor, daquilo que sabemos pensar, sabemos fazer, sabemos viver. Talvez esse pensar, esse fazer, esse viver seja traçado com maior profundidade, equilíbrio, aberto as novas concepções que estão aparecendo e aparecerão.

Talvez, num primeiro momento, não identificaremos como novas concepções, pois delas nada conhecemos nada sabemos. Se soubermos, elas não são novas, são fatos encobertos pela película do novo.  E estas tem força de apresentar-se com realidade ilusória que nos envolve nos atrai, nos contamina, nos engana. Talvez tarde seja, porém ainda há tempo, de superar esta falta de autenticidade, pela aparência do engodo repetitivo de uma derme enfeitiçada apresentando-se como camaleão.

Nesse ambiente posso fertilizar dimensões esperançosas?

Penso que sim. Porém será laboriosa essa reconstrução, pois velhos materiais estão aí postos como os únicos para a edificação. Necessitamos definir, no caminhar, estes novos formatos e dispensar materiais antigos e utilizar outros materiais e criar e inovar outros tantos. Assim podemos, assim caminhamos, sem um destino definido, porém, com experiências da condição humana que nos conduziu até aqui definidas pela razão, agora acompanhada pela sensibilidade de um coração que sangra que foi e é marca de nossa espécie.

 

*Paulo Bassani é filósofo e sociólogo

 

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