29 de janeiro de 2021

 


                    

               Construções e desafios de futuro*

“Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”

                                        José Saramago

Penso termos cinco concepções fundamentais para iniciar as construções de futuro necessárias:

1.     Romper a obsessão da construção de um mundo unitário, um mundo único, estabelecido por um único molde, com determinações culturais uniformes;

2.     Caminhar em direção ao futuro sem uma compreensão completa, pronta, determinada de como será este futuro, a razão sensível nos dará o equilíbrio necessário;

3.     Ampliar e respeitar a diversidade cultural que é a maior riqueza que temos no mundo;

4.     Deixarmos conduzir pela imaginação, criatividade e inovação técnico, científica e filosófica;

5.     Carregar valores universais dos direitos humanos, sociais e da natureza.

Momento importante para discutir, debater, entender e tomar decisões diferentes das tomadas ate então. Temos que reinventar o mundo com outra e nova concepção de compreender nossas relações com uns e outros.  Como nossa espécie e com a natureza. Estamos num mesmo mar, não num mesmo barco, o mar é o mesmo, os barcos e as formas para cruzá-lo é que são diferentes. E isto que dificulta a compreensão de que o mar está revolto para todos, com sofrimentos diversos, pois cada um possui embarcações diversas e que sofrem diferenciadamente.

Nós os humanistas vivemos um tempo de forte desencantamento com a vida, com o mundo. Pois vemos e entendemos o que está acontecendo nesse tempo ser um tempo de enormes desafios. Com a economia, com a política, com a natureza, com os riscos de vivermos retrocessos emancipatórios. As utopias luminosas de amanhã melhor parecem se apagar.  As tochas que nos conduziam por um aparente caminho seguro se apagaram, retiraram o caminho e agora estamos num curso sem rumo e de completa escuridão.

Precisamos recuperar o curso da história civilizatória para debatermos que tipos de mundo que queremos viver e que tipos de mundo queremos deixar para nossos filhos, para as futuras gerações.  Trata-se de debatermos formas de habitar o planeta com outros fundamentos, diferenciados dos que já foram experimentados e esgotados.

Essa pulsão pelo crescimento que impacta a todos e que beneficia somente a alguns necessita ser revertida imediatamente. Não há outra saída, confiar que a ciência e tecnologia que nos levou a este estado possa ser a mesmo que vai nos tirar, solucionar, é uma idiotice  gigantesca. Pois vai contra as leis da natureza, da matemática, da física, da química, da biologia e toda e qualquer compreensão consciente da vida.

Estamos anestesiados, parados sem buscar alternativas, depende de nossa reação é que vamos perceber se a vida neste planeta irá continuar ou não, somos responsáveis desse desastre por ação ou por omissão. Hoje compreendemos o grau dos desastres, porém por ignorância ou interesses dizemos todo bem, vamos levando, ou então as tecnologias irão encontrar saídas para esses problemas

Estamos em guerra! A humanidade está sendo posta a prova. Diante de um grande desastre, quantas ameaças estamos vivenciando e não é apenas com a COVID -19, dela e com ela virão outros desafios.

*Paulo Bassani é Filósofo e Sociólogo

 

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