17 DE FEVEREIRO DE 2021
FOLHA DE LONDRINA - ESPAÇO ABERTO
Tempos difíceis e a reconstrução democrática*

Em nosso tempo, final da segunda década e início da terceira do século
XXI, vivemos uma crise bastante significativa que leva muitos de seus maiores
intelectuais a repensar os destinos da sociedade em curso. Já conhecemos a
tensão e o medo causado pela pandemia da COVID-19, e outras tensões e ameaças
que nos circundam. Mesmo que circulem, por uma parte da intelectualidade, certo
ar de desânimo em relação a possíveis caminhos, há também outros que tentam
identificar pelas brechas e de lá perceber as luzes de um amanhã melhor para a
humanidade. Se há um estreitamento de horizontes na realidade crua que vivemos,
também há um alongamento de possibilidades quando verificamos o potencial
humano ainda não utilizado para as novas descobertas e, que estas, não repitam
as bases filosóficas, científicas e tecnológicas insustentáveis.
Trata-se de refazermos a civilização. Pretensão gigantesca, porém
necessária. Quando os horizontes se fecham não há outra saída para evitar a
barbárie. Necessitamos sentar para conversar sobre os rumos dos processos em
curso que colocam o capital e o mercado como centro, e esquecem-se da vida
humana e natural. Não há principio epistemológico e moral mais brutal que este!
A vida, o crescimento humano vale menos que o dinheiro, e o crescimento dos
capitais que se acumulam em poucos centros planetários, em poucas mãos,
ignorando todo o restante que padece de direitos mínimos.
Há uma necessidade de diálogos e decisões concretas no encontro de
equilíbrios entre o progresso, os direitos humanos e a conservação da natureza.
Isso para definirmos o traçado de modelos sócio-econômico, cultural, político e
ambiental possíveis. Se o caminho democrático é o meio mais viável para
concretizar tais eventos, então vamos pensar na democracia. Não desta
democracia conveniente ao capital que com o dinheiro comanda a troca de poderes
para manter tudo e sempre igual. Ela necessita sair desta miopia enganatória
econômica e ter noção e visibilidade social, humana e ambiental. Uma nova
narrativa democrática que ultrapasse as convenções em curso, propondo novos
formatos. Neste sentido há necessidade de abandono de uma democracia de baixa
intensidade, baixa densidade para conquistar uma democracia de alta
intensidade, alta densidade participativa, colaborativa, distributiva. Que
consiga olhar e contemplar o todo de seu território e de sua população, onde
não ajam privilégios, nem regionais nem de segmentos populacionais, mas todos
contemplados no rol de uma cidadania emancipatória.
Esta é uma democracia possível, que se faz e se constrói no cotidiano da
vida social, econômica, cultural. Onde o exercício da cidadania ocorre em sua
forma de expressar e vivenciar no dia a dia concreto. Forjando as mudanças
necessárias para encontrar denominadores que mais representem uma vida em
sociedade com os direitos e deveres, além do voto que garante a representação,
buscar realização através da participação, do entendimento de como funciona a
sociedade existente e, de como ela pode ser, com a minha e com a nossa
participação.
*Paulo Bassani é
filósofo e sociólogo
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