3 de dezembro de 2021

                                                  

                                                             Espaço Aberto - 02/12/2021
 

Sobre a ciência e uma nova racionalidade*

 Ilya Prigogini em sua obra “O fim das certezas” apresenta sua concepção de ciência da seguinte forma: “Assistimos à emergência de uma ciência que não está mais limitada a situações simplificadoras, idealizadas, mas que nos coloca diante da complexidade do mundo real, de uma ciência que permite a criatividade de viver como expressão singular de um traço fundamental de todos os níveis da natureza.”..

 O autor acredita que o futuro não é dado, está em contínua construção. E somos nós os construtores desse amanhã, que começa hoje com níveis de clareza daquilo que não podemos repetir e nas inspirações daquilo que provamos e podemos aperfeiçoar. As certezas, ao que tudo indica, se acabam na construção do novo, no devir que está contido em todo e qualquer fenômeno.

O autor enfatiza sua tentativa de superar a descrição evolucionista, determinista darwiniana, destaca que nós humanos somos responsáveis para criar as diferenças entre o passado e o futuro. Se não temos a compreensão, nem tão pouco a concepção de tempo em nossas mãos, pois somos filhos do tempo e espaço em que fomos gerados, temos em nossa mente o tempo que queremos construir. Em nossas mãos está o significado da existência humana em sua forma mental e, necessitamos fazer com que este significado ganhe forma concreta na vida cotidiana. Este foi e sempre será um grande desafio, encontrar significado na concretude do chão histórico da vida. Por outro lado, na concepção mental, podemos atribuir esta busca no plano das ideias, das inspirações e encontrar significados, propósitos para a vida em seus determinantes, temporais, existências e, nesse campo, a coisa é mais complexa.  Nessa questão assim se expressa o autor: “A questão do tempo e do determinismo não se limita as ciências, mas está no centro do pensamento ocidental desde a origem do que chamamos de racionalidade...”(Prigogini,2011) Uma racionalidade criada pela lógica moderna capitalista que nos condiciona uma forma de ser e estar no mundo. Racionalidade de coisas e de produtos quantitativos e qualitativos pela relação produtiva sobre os homens, sobre a natureza.

Diante disso, em busca de significados existenciais da potencialidade humana necessitamos cultivar uma nova racionalidade encontrada nas obras de Prigogini (2011) e Leff (2006). O que Prigogine levanta é na tentativa de lançar o inicio de uma nova racionalidade que retire de cena a ideia de ciência e certeza, probabilidade e ignorância. E dar início a uma nova aventura na ciência que incorpore criatividade, imaginação, equilíbrio, prudência, decência, preservação, como uma expressão singular de nossa existência diante de tudo e de todos. Uma nova forma de enfrentar a complexa realidade de nosso mundo, retomando o caminho que perdemos, e sanando os erros que foram cometidos.  Como resume o autor propor “um novo início de um capítulo da história de nosso diálogo com a natureza.” (pág.15)

Leff (2006) agrega a racionalidade ambiental em busca de uma nova relação teoria-prática, que mobilizam as ações sociais para a sustentabilidade através de um pensamento crítico, em que para "transcender o objetivismo da racionalidade, é necessário fundar outra racionalidade produtiva, em que o valor renasceria dos significados considerados à natureza pela cultura, quer dizer, pelos valores-significados das culturas”,(Leff,2006) Entendendo que a racionalidade tradicional, sempre utilizou a natureza a seu fim, agora vamos no dialogo estabelecer outra relação próxima e respeitosa.

 O que as contribuições de Prigogine e Leff nos orientam nesse momento.  Que o devir é a condição de nosso dialogo com a natureza, não com certezas morais, mas de novas possibilidades inovadoras, sustentáveis e éticas. Nesse caminho precisamos aprender a pensar e assim incorporarmos novos elementos nesse percurso, abrindo espaços para outros pensamentos, outras ideias, trilhas e caminhos a percorrer.


*Paulo Bassani é sociólogo e professor universitário

 

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