17 de janeiro de 2017

A desconstrução do mundo                                                                                                                                                                                 * Paulo Bassani

Demonstrar e comprovar que oito pessoas possuam a mesma riqueza que metade da população mundial, cerca de 3.600 (três bilhões e seiscentos milhões) dos quase 7,2 bilhões de pessoas é algo absurdo para nossa compreensão. Este é um estudo resultado elaborado pela Oxfam, entidade que reúne diversas organizações não governamentais. Baseadas nas informações do "Credit Suisse Wealth Report 2016" e na lista de super-ricos da revista "Forbes" evidencia o aumento da desigualdade e injustiça econômica no planeta.
Qual é o propósito de tudo isso!
Mundo desencantado e complicado este. Um tipo de civilização com estes valores, com esta visibilidade nas mídias, nos causa dois espantos. Por um lado, demonstra a má distribuição da renda, injustiça social, concentração absurda de bens e capitais nas mãos de poucos em detrimento da grande maioria de homens e mulheres. Por outro, alimenta um conjunto enorme de pessoas, a dizer: veja como eles trabalharam como eles têm “sorte”, como eles merecem e, foram espertos em seus negócios.
Pois bem, a estes que acreditam, e há muitos, em papai Noel, pois alimentam e acreditam que um dia chegarão lá também. Meus sentimentos de pesar, pobres de espírito, pobres iludidos.  Reger essa vida pelo lucro, pelo triunfo, pela vitória sobre uma grande maioria abnegada ao mínimo para viver, não parece ser algo que traduza algum tipo de humanidade. Não consegui identificar na imagem destes seres “iluminados” um resquício de felicidade, talvez alegria, por terem o que tem, mas felicidade, esta, ao que tudo indica não poderá emergir de seus olhos.
Isso nos remete a verificar que o modelo em curso, é bom somente para um número extremamente restrito de pessoas, que fazem do sistema, sua forma de viver, pois lhes é favorável. Se pensarmos que ainda podemos salvar o mundo, com esses acima, não podemos contar, nem com eles, nem em quem acreditam neles, pelo contrário, todos esses irão acelerar a destruição do mundo, do nosso mundo. Se com esses não podemos contar, pois teremos que obstinadamente, negar essa fórmula que mitifica alguns poucos a objetivar “sua fortuna”, sua fama. Temos que olhar mais alto no significado da vida, pois essa fórmula, pelo contrário, retira a vida e, expressa a morte, a violência, a insensatez, e todos os tipos de injustiças. E não temos o direito de fazer o mal a ninguém.
Há um capitalismo, há uma globalização, há lógica única, forte, impactante e perversa que se faz presente no cotidiano e no imaginário. Uma alienação que poluiu nosso inconsciente coletivo, e, há tantos mecanismos em cena que alimentam esse condicionante.  Reger essa vida pelo lucro, pelo ganho, pela acumulação ilimitada, causando uma enorme contradição para a vida de muitos, isso tudo representa a estupidez e o desencantamento humano, baseado na super materialidade infinita do progresso, sem ver e entender o porquê e para que. Esse parece ser o curso da produção das mercadorias, do consumo e do dinheiro nesta alta modernidade!
Outra questão que nos preocupa, com essas diferenças, na qual isso tudo resulta, diz respeito, as guerras, o “terrorismo”, a fome, a exclusão populacional de seus territórios e a destruição da biodiversidade planetária: rios e mares, florestas e animais, com esta ânsia de poder e acumulação infinita.
 Mas será que nascemos para isso, para viver bem a partir da miséria de milhões de outros!  Ou nascemos para ser felizes e fazer os outros felizes, apreendendo a ser feliz com o trabalho, ético e do esforço braçal ou intelectual que permite o bem viver.
O que buscamos, e esta são tarefas da ética intelectual, é pensar e  possibilitar as condições de construir uma vida digna, um trabalho para viver, comida, água de beber, terra para plantar, casa para morar, roupa para vestir, poder nos deslocar com segurança, educação de qualidade, boa saúde, cultura e um planeta preservado que permita a vida em sua plenitude.  
Imaginamos, como dizia José Saramago, nós da “Tribo da Sensibilidade” vamos imaginar um mundo onde caibam todos. Prefiro crer e navegar por esta utopia.

                       Prof. Paulo Bassani é sociólogo e professor da UEL 


15 comentários:

  1. A sensibilidade que falta no mundo. Em poucas palavras traduzidas.

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  2. Uma leitura de nosso tempo. Tempos nublados.

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  3. Desconstrução termo utilizado por Jaques Derrida. Muito bem contemporizado. Parabéns !

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  4. Precisamos entender o curso das coisas nessa sociedade que otimiza o ganho, o lucro e a acumulação, enquanto muitos nada tem.

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  5. Alta sensibilidade, que normalmente está ausente nos intelectuais.

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  6. Precisamos estar atentos as formas ideológicas que o sistema atua. Fazendo crer que esse tipo de vitória aconteça a todos. Grande farsa!

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  7. Sabemos que a vida deve continuar. Porém não uma vida qualquer, uma vida vadia. A vida em suas possibilidades múltiplas somente terão condição de se apresentar, desenvolver, se abdicarmos a todo tipo de tirania de destruição, de exploração, subordinação.Mazelas que este tipo de desigualdade carrega.

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  8. É claro e notória a posição do prof. Bassani acerca do capitalismo e da modernidade. Percebe as contradições que ambos carregam.

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  9. Quando olhamos para o presidente americano Trump vemos em curso a destruição do mundo.....

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  10. Com Trump iremos para o fundo do poço. Parece que esta maneira de organizar as coisas nesta modernidade vai nos levar ao caus total muito mais cedo do que imaginávamos. A cada dia tende a ser dias de maior risco para a humanidade. Somos bombardeados por todo tipo de maldades que o homem sem caracter apresenta: guerras, intolerância, pré-conceitos de todos os tipos e formas, recuo nas conquistas sociais, o planeta e sua imensa, porém frágil, biodiversidade sendo engolida pela força do capital vorás.

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  11. Parece que com Trump veremos a destruição do mundo se acelerar... Alguém conseguirá frear esse retrocesso !!!

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  12. Dias sombrios pela frente.

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  13. Precisamos problematizar, entender, debater os rumos desse mundo. Não sabemos ao certo saberemos mais adiante, se teremos nova oportunidade.

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