A desconstrução do mundo * Paulo Bassani
Demonstrar e comprovar que oito
pessoas possuam a mesma riqueza que metade da população mundial, cerca de 3.600
(três bilhões e seiscentos milhões) dos quase 7,2 bilhões de pessoas é algo
absurdo para nossa compreensão. Este é um estudo resultado elaborado pela Oxfam,
entidade que reúne diversas organizações não governamentais. Baseadas nas
informações do "Credit Suisse Wealth Report 2016" e na lista de super-ricos
da revista "Forbes" evidencia o aumento da desigualdade e injustiça
econômica no planeta.
Qual é o propósito de tudo isso!
Mundo desencantado e complicado
este. Um tipo de civilização com estes valores, com esta visibilidade nas
mídias, nos causa dois espantos. Por um lado, demonstra a má distribuição da
renda, injustiça social, concentração absurda de bens e capitais nas mãos de
poucos em detrimento da grande maioria de homens e mulheres. Por outro,
alimenta um conjunto enorme de pessoas, a dizer: veja como eles trabalharam
como eles têm “sorte”, como eles merecem e, foram espertos em seus negócios.
Pois bem, a
estes que acreditam, e há muitos, em papai Noel, pois alimentam e acreditam que
um dia chegarão lá também. Meus sentimentos de pesar, pobres de espírito,
pobres iludidos. Reger essa vida pelo
lucro, pelo triunfo, pela vitória sobre uma grande maioria abnegada ao mínimo
para viver, não parece ser algo que traduza algum tipo de humanidade. Não
consegui identificar na imagem destes seres “iluminados” um resquício de
felicidade, talvez alegria, por terem o que tem, mas felicidade, esta, ao que
tudo indica não poderá emergir de seus olhos.
Isso nos remete
a verificar que o modelo em curso, é bom somente para um número extremamente
restrito de pessoas, que fazem do sistema, sua forma de viver, pois lhes é
favorável. Se pensarmos que ainda podemos salvar o mundo, com esses acima, não
podemos contar, nem com eles, nem em quem acreditam neles, pelo contrário,
todos esses irão acelerar a destruição do mundo, do nosso mundo. Se com esses
não podemos contar, pois teremos que obstinadamente, negar essa fórmula que
mitifica alguns poucos a objetivar “sua fortuna”, sua fama. Temos que olhar
mais alto no significado da vida, pois essa fórmula, pelo contrário, retira a
vida e, expressa a morte, a violência, a insensatez, e todos os tipos de
injustiças. E não temos o direito de fazer o mal a ninguém.
Há um
capitalismo, há uma globalização, há lógica única, forte, impactante e perversa
que se faz presente no cotidiano e no imaginário. Uma alienação que poluiu
nosso inconsciente coletivo, e, há tantos mecanismos em cena que alimentam esse
condicionante. Reger essa vida pelo
lucro, pelo ganho, pela acumulação ilimitada, causando uma enorme contradição para
a vida de muitos, isso tudo representa a estupidez e o desencantamento humano,
baseado na super materialidade infinita do progresso, sem ver e entender o
porquê e para que. Esse parece ser o curso da produção das mercadorias, do
consumo e do dinheiro nesta alta modernidade!
Outra questão
que nos preocupa, com essas diferenças, na qual isso tudo resulta, diz
respeito, as guerras, o “terrorismo”, a fome, a exclusão populacional de seus
territórios e a destruição da biodiversidade planetária: rios e mares,
florestas e animais, com esta ânsia de poder e acumulação infinita.
Mas será que nascemos para isso, para viver
bem a partir da miséria de milhões de outros!
Ou nascemos para ser felizes e fazer os outros felizes, apreendendo a
ser feliz com o trabalho, ético e do esforço braçal ou intelectual que permite
o bem viver.
O que buscamos,
e esta são tarefas da ética intelectual, é pensar e possibilitar as condições de construir uma
vida digna, um trabalho para viver, comida, água de beber, terra para plantar,
casa para morar, roupa para vestir, poder nos deslocar com segurança, educação
de qualidade, boa saúde, cultura e um planeta preservado que permita a vida em
sua plenitude.
Imaginamos, como
dizia José Saramago, nós da “Tribo da Sensibilidade” vamos imaginar um mundo
onde caibam todos. Prefiro crer e navegar por esta utopia.
Prof. Paulo Bassani é sociólogo e professor da UEL
A sensibilidade que falta no mundo. Em poucas palavras traduzidas.
ResponderExcluirUma leitura de nosso tempo. Tempos nublados.
ResponderExcluirDesconstrução termo utilizado por Jaques Derrida. Muito bem contemporizado. Parabéns !
ResponderExcluirPrecisamos entender o curso das coisas nessa sociedade que otimiza o ganho, o lucro e a acumulação, enquanto muitos nada tem.
ResponderExcluirAlta sensibilidade, que normalmente está ausente nos intelectuais.
ResponderExcluirPrecisamos estar atentos as formas ideológicas que o sistema atua. Fazendo crer que esse tipo de vitória aconteça a todos. Grande farsa!
ResponderExcluirbooommm
ResponderExcluirSabemos que a vida deve continuar. Porém não uma vida qualquer, uma vida vadia. A vida em suas possibilidades múltiplas somente terão condição de se apresentar, desenvolver, se abdicarmos a todo tipo de tirania de destruição, de exploração, subordinação.Mazelas que este tipo de desigualdade carrega.
ResponderExcluirÉ claro e notória a posição do prof. Bassani acerca do capitalismo e da modernidade. Percebe as contradições que ambos carregam.
ResponderExcluirQuando olhamos para o presidente americano Trump vemos em curso a destruição do mundo.....
ResponderExcluirCom Trump iremos para o fundo do poço. Parece que esta maneira de organizar as coisas nesta modernidade vai nos levar ao caus total muito mais cedo do que imaginávamos. A cada dia tende a ser dias de maior risco para a humanidade. Somos bombardeados por todo tipo de maldades que o homem sem caracter apresenta: guerras, intolerância, pré-conceitos de todos os tipos e formas, recuo nas conquistas sociais, o planeta e sua imensa, porém frágil, biodiversidade sendo engolida pela força do capital vorás.
ResponderExcluirParece que com Trump veremos a destruição do mundo se acelerar... Alguém conseguirá frear esse retrocesso !!!
ResponderExcluirDias sombrios pela frente.
ResponderExcluirPrecisamos problematizar, entender, debater os rumos desse mundo. Não sabemos ao certo saberemos mais adiante, se teremos nova oportunidade.
ResponderExcluirlegal
ResponderExcluir