20 de novembro de 2016

Cidade MAIS: um Bioregionalismo em curso

Cidade MAIS: um Bioregionalismo em curso      

*Paulo Bassani

Esta noção, complementar ao Programa Cidade MAIS, pode ser definida pelo território onde os processos ocorrem, onde a comunidade se define politicamente pela sua capacidade de entender, tomar consciência e atuar em função desta formatação. Trata-se da cidade sustentável configurada pela sua relação com o meio ambiente, com natureza  que transforma e que é transformada por ela. Nesse conjunto o governo local pode se fortalecer no exercício permanente de estimulo a democracia de alto teor. Com isso gera uma reinvenção política local, que irradia por todos os cantos do território por ele governado.
No sentido geral Bioregionalismo é designado por uma " forma descentralizada de organização humana, visando manter a integridade dos processos biológicos de formações vivas e bioregion específica das formações geográficas, ajuda o desenvolvimento material e espiritual das comunidades humanas que a habitam " ( Thomas  Rebb) Uma das características importante para a construção de um Bioregionalismo compreende, conhecer e respeitar a diversidade física, biológica e cultural de uma região com sua singularidade, das pessoas que nela habitam, vivem, trabalham e constroem sua vida. Afirma Boff (2016), neste sentido “A tarefa básica do bioregionalismo é fazer os habitantes  entenderem e valorizarem o lugar onde vivem.”
Continua o autor, mais adiante, a enfatizar: “É na bioregião que a sustentabilidade se faz real e não retórica a serviço do marketing; pode se transformar num processo dinâmico que aproveita racionalmente das capacidades oferecidas pelo ecossistema local, criando mais igualdade, diminuindo em níveis razoáveis a pobreza, facilitando a participação das comunidades no estabelecimento dos projetos e das prioridades”.
O caminho para o Programa Cidade MAIS-Bioregional esta aberto.   A pergunta que nasce é porque não fazer!  Para isso nossos esforços caminham no sentido de compreender os potenciais existentes e estimular a natureza humana aqui existente em perspectiva de futuro. Pois tenho a preocupação de que as gerações futuras não irão nos perdoar se nada fizermos, e simplesmente virarmos as costas para as possibilidades presentes que podem garantir com maior seguridade esse futuro, um futuro sustentável. Ernest Mayr, biólogo evolucionista, considera que a melhor lição que tenha recebido de Charles Darwin tenha sido a de que “o mais importante em pesquisa científica não é ampliar a acumulação de fatos, mas fazer perguntas desafiadoras e tentar respondê-las” As perguntas já estão sendo formuladas e, estamos empenhados tentando encontrar respostas aos desafios de construir uma cidade sustentável. Respostas que possam enfrentar tanta insustentabilidade, tantas contradições e tantas descrenças na arte da organização e a participação política efetiva que ocorre no chão da vida cotidiana.
Por outro lado, se as formulações que estamos elaborando nos dizem algo, penso que podemos nos tornar um centro regional de um pensamento alternativo, que captou o conjunto de experiências que ocorrem mundo afora e, associado as nossas experiências, gerar uma identidade única, de pés vermelhos do chão de nossa terra. De neurônios estimulados que conjugam a arte da associação, na crença das transformações necessárias e na reorganização de um território que pensa o amanhã onde caibam todos os que aqui vivem e alimentam seus sonhos.
Enfrentamos a questão urbana com os melhores instrumentos a nosso dispor, e a capacidade dos atores nele envolvidos, motivados, formados e organizados. Enfrentamos os problemas com a conjunção da soma das experiências bem sucedidas. Enaltecemos e consideramos a criatividade que nasce no seio das experiências cotidianas que aparecem de formas isoladas e fragmentadas. Por conseguinte, os esforços caminham no sentido de encontrar os elos que as vinculam em possibilitar, numa primeira instância, um bem viver material básico. Ao longo deste processo, possibilitar os bens imateriais, fruto da própria experiência e identidade, que se cria e se refaz com olhar do amanhã. No calor das experiências comunitárias criam-se as condições, mesmo que embrionárias, de demonstração e visibilidade que muito se distancia de uma retórica, pois ocorre no chão visível da rua, do bairro, da cidade.
Não podemos continuar a investir na teoria do caus. Pois este já se encontra instalado: assim foi assim é, e assim será e, tão pouco, na descrença perante as mudanças e, na capacidade de organização e participação.  O que propomos é outro olhar encorajado que, aglutine as sinergias críticas correspondentes numa força para as transformações necessárias.
Boff (2016) reforça a importância da instalação de um bioregionalismo para encontrar as possibilidades concretas de organização socioambiental, sociocultural e socioeconômica de que acreditamos construir: “O bioregionalismo permite deixar para trás o objetivo de “viver melhor”(ética da acumulação ilimitada) para dar lugar ao “bem viver e conviver” (ética da suficiência) dos andinos, que implica sempre o bem-estar para toda a comunidade e entrar em harmonia com a Mãe Terra, com os solos, as águas e os demais elementos que garantem nossa vida junto com os demais seres vivos do ecossistema”
Atentos a esse conjunto de experiências saberemos compreender, diante de tantos argumentos contrários, que é possível construir coletivamente as mudanças e, hoje, temos as condições básicas para que esta mudanças ocorram. Para tanto devemos objetivar esforços e recursos para o fim de formação, preparação de atores críticos e atuantes nessa lógica que acreditamos ser transformadora.                                
                *Professor da UEL- GEAMA - Sociólogo e Co-autor do Programa Cidade MAIS




3 comentários:

  1. Parece ser uma proposta instigante e de relevância social.

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  2. O Bioregionalismo, ao que tudo indica, diante de uma globalização homogeinizante, parece um caminho possível de manter as caracteristicas regionais e suas identidades. Muito bem Bassani.

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  3. Bioregionalismo. Um bela sacada para situar o desenvolvimento local e suas dimensões amplas.

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