Cidade MAIS: um Bioregionalismo em curso
*Paulo
Bassani
Esta noção,
complementar ao Programa Cidade MAIS, pode ser definida pelo território onde os processos
ocorrem, onde a comunidade se define politicamente pela sua capacidade de
entender, tomar consciência e atuar em função desta formatação. Trata-se da
cidade sustentável configurada pela sua relação com o meio ambiente, com
natureza que transforma e que é
transformada por ela. Nesse conjunto o governo local pode se fortalecer no
exercício permanente de estimulo a democracia de alto teor. Com isso gera uma
reinvenção política local, que irradia por todos os cantos do território por
ele governado.
No sentido geral Bioregionalismo é designado por uma " forma descentralizada de
organização humana, visando manter a integridade dos processos biológicos de
formações vivas e bioregion específica das formações geográficas, ajuda o
desenvolvimento material e espiritual das comunidades humanas que a habitam " ( Thomas
Rebb) Uma das características importante para a construção de um Bioregionalismo
compreende, conhecer e respeitar a diversidade física, biológica e cultural de
uma região com sua singularidade, das pessoas que nela habitam, vivem,
trabalham e constroem sua vida. Afirma Boff (2016), neste sentido “A tarefa básica do bioregionalismo é fazer os
habitantes entenderem e valorizarem o lugar onde vivem.”
Continua
o autor, mais adiante, a enfatizar: “É na
bioregião que a sustentabilidade se faz real e não retórica a serviço do
marketing; pode se transformar num processo dinâmico que aproveita
racionalmente das capacidades oferecidas pelo ecossistema local, criando mais
igualdade, diminuindo em níveis razoáveis a pobreza, facilitando a participação
das comunidades no estabelecimento dos projetos e das prioridades”.
O caminho para o Programa Cidade MAIS-Bioregional esta aberto. A
pergunta que nasce é porque não fazer! Para isso nossos esforços caminham no sentido
de compreender os potenciais existentes e estimular a natureza humana aqui
existente em perspectiva de futuro. Pois tenho a preocupação de que as gerações
futuras não irão nos perdoar se nada fizermos, e simplesmente virarmos as
costas para as possibilidades presentes que podem garantir com maior seguridade
esse futuro, um futuro sustentável. Ernest Mayr, biólogo evolucionista,
considera que a melhor lição que tenha recebido de Charles Darwin tenha sido a
de que “o mais importante em pesquisa
científica não é ampliar a acumulação de fatos, mas fazer perguntas
desafiadoras e tentar respondê-las” As perguntas já estão sendo formuladas
e, estamos empenhados tentando encontrar respostas aos desafios de construir
uma cidade sustentável. Respostas que possam enfrentar tanta
insustentabilidade, tantas contradições e tantas descrenças na arte da
organização e a participação política efetiva que ocorre no chão da vida
cotidiana.
Por outro lado, se as
formulações que estamos elaborando nos dizem algo, penso que podemos nos tornar
um centro regional de um pensamento alternativo, que captou o conjunto de
experiências que ocorrem mundo afora e, associado as nossas experiências, gerar
uma identidade única, de pés vermelhos do chão de nossa terra. De neurônios
estimulados que conjugam a arte da associação, na crença das transformações
necessárias e na reorganização de um território que pensa o amanhã onde caibam
todos os que aqui vivem e alimentam seus sonhos.
Enfrentamos a questão
urbana com os melhores instrumentos a nosso dispor, e a capacidade dos atores
nele envolvidos, motivados, formados e organizados. Enfrentamos os problemas
com a conjunção da soma das experiências bem sucedidas. Enaltecemos e consideramos
a criatividade que nasce no seio das experiências cotidianas que aparecem de
formas isoladas e fragmentadas. Por conseguinte, os esforços caminham no
sentido de encontrar os elos que as vinculam em possibilitar, numa primeira
instância, um bem viver material básico. Ao longo deste processo, possibilitar
os bens imateriais, fruto da própria experiência e identidade, que se cria e se
refaz com olhar do amanhã. No calor das experiências comunitárias criam-se as
condições, mesmo que embrionárias, de demonstração e visibilidade que muito se
distancia de uma retórica, pois ocorre no chão visível da rua, do bairro, da
cidade.
Não podemos continuar a
investir na teoria do caus. Pois este já se encontra instalado: assim foi assim
é, e assim será e, tão pouco, na descrença perante as mudanças e, na capacidade
de organização e participação. O que
propomos é outro olhar encorajado que, aglutine as sinergias críticas correspondentes
numa força para as transformações necessárias.
Boff (2016) reforça a
importância da instalação de um bioregionalismo para encontrar as possibilidades
concretas de organização socioambiental, sociocultural e socioeconômica de que
acreditamos construir: “O
bioregionalismo permite deixar para trás o objetivo de “viver melhor”(ética da
acumulação ilimitada) para dar lugar ao “bem viver e conviver” (ética da
suficiência) dos andinos, que implica sempre o bem-estar para toda a comunidade
e entrar em harmonia com a Mãe Terra, com os solos, as águas e os demais
elementos que garantem nossa vida junto com os demais seres vivos do
ecossistema”
Atentos a esse conjunto
de experiências saberemos compreender, diante de tantos argumentos contrários,
que é possível construir coletivamente as mudanças e, hoje, temos as condições
básicas para que esta mudanças ocorram. Para tanto devemos objetivar esforços e
recursos para o fim de formação, preparação de atores críticos e atuantes nessa
lógica que acreditamos ser transformadora.
*Professor da UEL- GEAMA - Sociólogo e Co-autor do Programa Cidade MAIS
*Professor da UEL- GEAMA - Sociólogo e Co-autor do Programa Cidade MAIS
Parece ser uma proposta instigante e de relevância social.
ResponderExcluirO Bioregionalismo, ao que tudo indica, diante de uma globalização homogeinizante, parece um caminho possível de manter as caracteristicas regionais e suas identidades. Muito bem Bassani.
ResponderExcluirBioregionalismo. Um bela sacada para situar o desenvolvimento local e suas dimensões amplas.
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