6 de janeiro de 2021

Tempo tecnológico: ultra modernidade em aberto um desafio intelectual*


     Venho tentar definir neste pequeno ensaio, um traçado de ideias tecnológicas que nos rodeiam com seus propósitos de encurtar as forma entre o ter e o ser de nosso tempo. Estas podem nos conduzir a um abismo onde o conjunto de experiências se tornaram tão impactantes em que as possibilidades de volta podem estar comprometidas pela armadilha por ela mesma montada. Nesse tempo de ultra modernidade cabe aos intelectuais críticos expandir a natureza emancipada de seu espírito, sua força e seu pensar, sobre questões como estas. 
    Cabe, no entanto despir a touca cinzenta que encobre os pseudo intelectuais que estabelecem uma interpretação de formas viáveis a modernidade em curso, em seu estagio avançado, colaboram para o incremento dos temperos como um alimento contaminado pela lógica hegemônica fazendo crer que a contaminação se origina e está fora desta lógica. Seus dizeres e intervenções mediáticas incrementam direta e indiretamente um formato renovado pelas determinações absolutas e irredutíveis de um modo, um único modo que se encontra encapsulado na grande bolha da modernidade, tudo ocorre dentro e sob essas determinações de tempo, espaço e forma, o que mudam são os contornos aromatizados e modernizantes. A elaboração neoliberal, responsável por esta bolha, em sua manifestação científica e filosófica é extremamente habilidosa em extrair lucros de suas ideiais que despontam com as determinações tecnológicas decorrentes. 
    Todo processo criativo nesse contexto age segundo um único objetivo, extrair valor como resultado agregado a esta nova tecnologia cada vez menos dependente da força de trabalho alheia e humana. Na medida em que este esforço de ideias inovadoras se expande insuflam um mercado que incrementa o capital em suas formas contemporâneas de obtenção de lucros, com expansão tecnológica, nesta fase, as necessidades são insaciáveis e ilimitadas, pois colocam um estágio tecnológico não a partir de novos objetos e sim de velocidades e capacidades que mudam muito rapidamente. A força mediática dos próprios instrumentos comunicativos da sociedade são os responsáveis pela intensidade da força de sua dependência, a tais artefatos, construídos nesta fase. Esses artefatos criados na ultra modernidade farão transcender as necessidades e contradições da vida moderna, abrindo um tempo de relação próxima e determinante da vida natural as tecnologias decorrentes. Seremos seres altamente dependentes dessas tecnologias chegando a um ponto que poderá aguçar dúvidas sobre as contradições que ela mesma irá gerar entre os objetivos, meios e fins. O que move e para onde move, poderá carregar em si a contradição fundante do mundo burguês – moderno que é liberdade e o controle absoluto de minha vontade, minha decisão, o dito livre arbítrio, uma espécie de traição aos próprios criadores. A pedra de Sisífo irá rolar sob as próprias cabeças de seus condutores do alto da montanha. Nesta corrente estamos fomentando e criando seres humanos frutos de uma ultra modernidade que tem epistemamente as intenções do capital para algo que não seja simplesmente o lucro, a acumulação e sim, também o controle das mentes, intencionalidades e corações numa desintegração constante e ampliada. 
    Estas são formas de um composto emaranhado de um modo de viver, que como já enfatizava Berman, Marshall (1994, p.117) gera “Uma fundamental incerteza sobre o que é básico o que é válido, até mesmo o que é real, a combustão das esperanças mais radicais, em meio a sua radical negação”. Aí estão postas as questões que se encontram no horizonte a nos atormentar como preocupação de um esgotamento humano, para outro formato. Isto poderá, a médio e longo prazo, nos levar a nossa própria autodestruição como espécie ou será a porta de entrada de um novo tempo no qual as condições de suas análises ainda nos carecem. O que sabemos é que trata-se de uma aposta de um tempo de incertezas. 


 *Paulo Bassani é sociólogo e filósofo

 FOLHA DE LONDRINA - Espaço Aberto - pág.02 06 de janeiro de 2021

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