Tempo tecnológico: ultra modernidade em aberto um desafio intelectual*
Venho tentar definir neste pequeno ensaio, um traçado de ideias
tecnológicas que nos rodeiam com seus propósitos de encurtar as forma entre o
ter e o ser de nosso tempo. Estas podem nos conduzir a um abismo onde o conjunto
de experiências se tornaram tão impactantes em que as possibilidades de volta
podem estar comprometidas pela armadilha por ela mesma montada. Nesse tempo de
ultra modernidade cabe aos intelectuais críticos expandir a natureza emancipada
de seu espírito, sua força e seu pensar, sobre questões como estas.
Cabe, no
entanto despir a touca cinzenta que encobre os pseudo intelectuais que
estabelecem uma interpretação de formas viáveis a modernidade em curso, em seu
estagio avançado, colaboram para o incremento dos temperos como um alimento
contaminado pela lógica hegemônica fazendo crer que a contaminação se origina e
está fora desta lógica. Seus dizeres e intervenções mediáticas incrementam
direta e indiretamente um formato renovado pelas determinações absolutas e
irredutíveis de um modo, um único modo que se encontra encapsulado na grande
bolha da modernidade, tudo ocorre dentro e sob essas determinações de tempo,
espaço e forma, o que mudam são os contornos aromatizados e modernizantes. A
elaboração neoliberal, responsável por esta bolha, em sua manifestação
científica e filosófica é extremamente habilidosa em extrair lucros de suas
ideiais que despontam com as determinações tecnológicas decorrentes.
Todo
processo criativo nesse contexto age segundo um único objetivo, extrair valor
como resultado agregado a esta nova tecnologia cada vez menos dependente da
força de trabalho alheia e humana. Na medida em que este esforço de ideias
inovadoras se expande insuflam um mercado que incrementa o capital em suas
formas contemporâneas de obtenção de lucros, com expansão tecnológica, nesta
fase, as necessidades são insaciáveis e ilimitadas, pois colocam um estágio
tecnológico não a partir de novos objetos e sim de velocidades e capacidades que
mudam muito rapidamente. A força mediática dos próprios instrumentos
comunicativos da sociedade são os responsáveis pela intensidade da força de sua
dependência, a tais artefatos, construídos nesta fase. Esses artefatos criados
na ultra modernidade farão transcender as necessidades e contradições da vida
moderna, abrindo um tempo de relação próxima e determinante da vida natural as
tecnologias decorrentes. Seremos seres altamente dependentes dessas tecnologias
chegando a um ponto que poderá aguçar dúvidas sobre as contradições que ela
mesma irá gerar entre os objetivos, meios e fins. O que move e para onde move,
poderá carregar em si a contradição fundante do mundo burguês – moderno que é
liberdade e o controle absoluto de minha vontade, minha decisão, o dito livre
arbítrio, uma espécie de traição aos próprios criadores. A pedra de Sisífo irá
rolar sob as próprias cabeças de seus condutores do alto da montanha. Nesta
corrente estamos fomentando e criando seres humanos frutos de uma ultra
modernidade que tem epistemamente as intenções do capital para algo que não seja
simplesmente o lucro, a acumulação e sim, também o controle das mentes,
intencionalidades e corações numa desintegração constante e ampliada.
Estas são
formas de um composto emaranhado de um modo de viver, que como já enfatizava
Berman, Marshall (1994, p.117) gera “Uma fundamental incerteza sobre o que é
básico o que é válido, até mesmo o que é real, a combustão das esperanças mais
radicais, em meio a sua radical negação”. Aí estão postas as questões que se
encontram no horizonte a nos atormentar como preocupação de um esgotamento
humano, para outro formato. Isto poderá, a médio e longo prazo, nos levar a
nossa própria autodestruição como espécie ou será a porta de entrada de um novo
tempo no qual as condições de suas análises ainda nos carecem. O que sabemos é
que trata-se de uma aposta de um tempo de incertezas.
*Paulo Bassani é sociólogo
e filósofo
FOLHA DE LONDRINA - Espaço Aberto - pág.02 06 de janeiro de 2021

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