A modernidade criou uma falha de compreensão da vida. Não compreendemos que a
vida depende da saúde da Biosfera planetária. Da manutenção das condições
naturais de seus ciclos, seus potencias, sua rede de relações e suas limitações.
E que toda a biodiversidade existente necessita viver para determinar a vida
humana. Essa é a grande questão que devemos responder e solucionar para garantir
a continuidade da vida neste planeta. A maioria das pessoas “pensam” no aqui e
agora, com forma de um olhar e sentir, um espaço tempo mínimo de que atinge e
determina sua vida. Não conseguem, de maneira geral, entender e discernir as
passadas anteriores, nem tão pouco possíveis e necessários passos adiante, na
busca de sentidos e significados mais profundos de nossa humanidade. O apreender
também deve ser ensinado. Podemos apreender a aprender com perspectivas novas de
captação de fatos e intenções que aparecem no contexto de nosso tempo.
Debruçar-se sobre as questões que emergiram na formação da modernidade e que
hoje nos trazem preocupações para desvelar a complexidade que elas apresentam.
Abrir desta forma um novo pensamento que se configurará com os diálogos que os
ambientes de democracia de alta intensidade poderá possibilitar. Assim poderá
emergir um novo processo civilizatório de pensar e viver nesse mundo. O homem
jamais utilizou todas as possibilidades existentes, a vida, o mundo é definido,
organizado, que aí está é um tipo de possibilidade, das possibilidades de então,
que foram construídas num determinado tempo e espaço, sob o controle de um
sistema que se adapta a estas possibilidades. Entretanto o homem jamais constrói
as coisas com todas as possibilidades existentes, mas quem falou que não podemos
construir algo que ainda não exista. Assim fica claro que não sou devoto de
Francis Fukuyama, que acreditava no final da história. Nós que temos a ciência,
a filosofia, o conhecimento em mãos, também temos a obrigação lançarmos para o
alto essas ideias, como sementes, para que elas possam encontrar terras férteis
onde possam germinar crescer, e trazer bons frutos. Somente multiplicando,
repetindo no cotidiano, as boas experiências desta forma ela poderá se tornar
efetiva com o tempo. É assim que temos que seguir, acreditar em nossas ideias, e
ir construindo novas utopias, não acreditar nessa corrente de que nada se pode
fazer apenas ingressar nesse ritmo, nessas formas, já estabelecidas, aceitas,
bom para diminuto número de pessoas, com o caráter destrutivo e excludente. Carl
Segan em “O Mundo Assombrados pelos Demônios” dizia:“Se formos enganados por
muito tempo, a nossa tendência é rejeitar qualquer evidência do engano. Já não
nos interessa descobrir a verdade. O engano nos aprisionou. “ Mas isso não nos
condiciona a estar presos ao nosso engano, ao auto-engano que comanda nosso
pensar no cotidiano alienado. Necessitamos e podemos nos desatar destas amarras.
Trata-se de abrir e desconstruir a racionalidade que levou a este estado, e
construir uma nova racionalidade ambiental, sensível, dialógica, humana. Sairmos
da era da brutalidade e ingressarmos na era da delicadeza, como dizia Milton
Santos. Necessitamos de uma consciência socioambiental, para estabelecer novos
diálogos que nos ensine a conviver com tudo e, com todos os fatores que
possibilitam e compõem a Teia da vida. Não estamos com muito tempo, porém temos
diante de nós uma oportunidade única, pois cientes e atentos temos os
fundamentos do conhecimento prático e científico para fazer as coisas certas.
Cabe decidirmos de maneira consciente e ética que o caminho da sustentabilidade
é possível, é urgente e necessário, e buscar ininterruptamente elementos
sustentáveis ainda não visíveis, em outras palavras, pensar o não pensado.
* Prof. Dr. Paulo Bassani é Sociólogo e Filósofo
Folha de Londrina - Espaço Aberto - pág. 02, 07/10/2020
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