8 de outubro de 2020

Sopro de lucidez nas ideias empoeiradas* 


 A modernidade criou uma falha de compreensão da vida. Não compreendemos que a vida depende da saúde da Biosfera planetária. Da manutenção das condições naturais de seus ciclos, seus potencias, sua rede de relações e suas limitações. E que toda a biodiversidade existente necessita viver para determinar a vida humana. Essa é a grande questão que devemos responder e solucionar para garantir a continuidade da vida neste planeta. A maioria das pessoas “pensam” no aqui e agora, com forma de um olhar e sentir, um espaço tempo mínimo de que atinge e determina sua vida. Não conseguem, de maneira geral, entender e discernir as passadas anteriores, nem tão pouco possíveis e necessários passos adiante, na busca de sentidos e significados mais profundos de nossa humanidade. O apreender também deve ser ensinado. Podemos apreender a aprender com perspectivas novas de captação de fatos e intenções que aparecem no contexto de nosso tempo. Debruçar-se sobre as questões que emergiram na formação da modernidade e que hoje nos trazem preocupações para desvelar a complexidade que elas apresentam. Abrir desta forma um novo pensamento que se configurará com os diálogos que os ambientes de democracia de alta intensidade poderá possibilitar. Assim poderá emergir um novo processo civilizatório de pensar e viver nesse mundo. O homem jamais utilizou todas as possibilidades existentes, a vida, o mundo é definido, organizado, que aí está é um tipo de possibilidade, das possibilidades de então, que foram construídas num determinado tempo e espaço, sob o controle de um sistema que se adapta a estas possibilidades. Entretanto o homem jamais constrói as coisas com todas as possibilidades existentes, mas quem falou que não podemos construir algo que ainda não exista. Assim fica claro que não sou devoto de Francis Fukuyama, que acreditava no final da história. Nós que temos a ciência, a filosofia, o conhecimento em mãos, também temos a obrigação lançarmos para o alto essas ideias, como sementes, para que elas possam encontrar terras férteis onde possam germinar crescer, e trazer bons frutos. Somente multiplicando, repetindo no cotidiano, as boas experiências desta forma ela poderá se tornar efetiva com o tempo. É assim que temos que seguir, acreditar em nossas ideias, e ir construindo novas utopias, não acreditar nessa corrente de que nada se pode fazer apenas ingressar nesse ritmo, nessas formas, já estabelecidas, aceitas, bom para diminuto número de pessoas, com o caráter destrutivo e excludente. Carl Segan em “O Mundo Assombrados pelos Demônios” dizia:“Se formos enganados por muito tempo, a nossa tendência é rejeitar qualquer evidência do engano. Já não nos interessa descobrir a verdade. O engano nos aprisionou. “ Mas isso não nos condiciona a estar presos ao nosso engano, ao auto-engano que comanda nosso pensar no cotidiano alienado. Necessitamos e podemos nos desatar destas amarras. Trata-se de abrir e desconstruir a racionalidade que levou a este estado, e construir uma nova racionalidade ambiental, sensível, dialógica, humana. Sairmos da era da brutalidade e ingressarmos na era da delicadeza, como dizia Milton Santos. Necessitamos de uma consciência socioambiental, para estabelecer novos diálogos que nos ensine a conviver com tudo e, com todos os fatores que possibilitam e compõem a Teia da vida. Não estamos com muito tempo, porém temos diante de nós uma oportunidade única, pois cientes e atentos temos os fundamentos do conhecimento prático e científico para fazer as coisas certas. Cabe decidirmos de maneira consciente e ética que o caminho da sustentabilidade é possível, é urgente e necessário, e buscar ininterruptamente elementos sustentáveis ainda não visíveis, em outras palavras, pensar o não pensado. 

* Prof. Dr. Paulo Bassani é Sociólogo e Filósofo 
 
Folha de Londrina  - Espaço Aberto - pág. 02,   07/10/2020

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