18 de setembro de 2018


FOLHA DE LONDRINA -   ESPAÇO ABERTO – Dia 18 de setembro de 2018


Vivemos um tempo de urgência de mudança civilizacional, pois são perturbadores os sinais dos tempos. E é oportuno que a tribo da sensibilidade, expressão cunhada por José Saramago, que designa o conjunto de pessoas que querem pensar e construir um mundo melhor. Que esta tribo, que são muitos, possam pensar e conduzir as coisas para outra direção.
Por um lado pensarmos e fazermos as coisas em curto prazo. Esta é uma demonstração que a condição humana nos coloca como seres co-participes do mundo, apontando para o alerta de que se não fizermos nada poderá ser tarde demais o amanhã. Sem nada fazer, é numa zona de conforto, sensação de impotência, pois sabemos que os governantes e as elites empresariais, não querem e nem entendem que há urgência em mudar. Nesta dimensão compete definirmos ações individuais e conjuntas que irão compor um ciclo de passagem educacional e experimental para a construção e apreensão de uma nova cultura. Este, não será um tempo menor, mas diferente, sugestivo e exemplificador das possibilidades que se abrem diante da alternância de padrões culturais socioprodutivos e dos valores inerentes.
Por outro lado sabemos, mesmo com dificuldades de aceitação e compreensão total, que o agravamento dos problemas gerados, pelo estado atual da arte, serão cada vez maior em volume e em impactos. Num mundo de transformações rápidas, as que se destacam impactam de tal maneira o planeta já desgastado, que chegará o momento de que teremos dificultada qualquer alternativa no chão planetário com o uso de tecnologias criadas pela ciência moderna. Ai estará a busca por outra morada fora do planeta, esta ainda incerta.
As pergunta que se fazem diante deste quadro são as seguintes: Estarão as escolas, as universidades, a educação e ciência em curso, preparadas e capazes de ajudar a construir outro modelo de sociedade?
Estamos investindo esforços para ampliar o mesmo, com os limites que carrega em sua formulação básica, ou estamos investindo nossos esforços intelectuais em imaginar e exercitar, observando as experiências do cotidiano, um futuro civilizacional alternativo, pós capitalista?
Teremos condições de repensar a forma de viver, o modo como vivemos, o modo como organizamos a vida, sendo permanentemente seduzidos, ludibriados e dragados por esta forma hegemônica em vigor, de pensar e viver?
Como podemos formar e ampliarmos a tribo da sensibilidade que, juntos poderão orientar, direcionar e exemplificar, o conjunto de tarefas a serem realizadas para essa travessia civilizacional?
Não podemos permitir nesse percurso que vigorem as "velhas" e nem as "novas" roupagens da corrupção, uma narrativa que nada condiz com a democracia, pois apenas alimentam o domínio dos interesses de segmentos empresariais, nacionais e transnacionais, que bloqueiam todo e qualquer avanço social. Ao que tudo indica não há outro caminho senão o aprofundamento da democracia, marcado por um ciclo de plena participação e conscientização popular.
O desafio está em desconstruir o modo atual de pensar, e em construir dialogando e convivendo com todos os saberes que conhecemos e com os que não conhecemos. Abrir uma janela para o futuro sem saber o todo, sem definirmos o amanhã, tratar esta travessia como aprendizagem, proposta que apresenta o poeta da Amazônia Thiago de Melo que reitera não querer indicar um caminho e sim um novo jeito de caminhar. Seguir um caminho suficientemente seguro que oriente, muito mais o que não fazer. E o que fazer, brotará da inspiração, imaginação que nos caracteriza como seres humanos criativos e cuidadosos.
O pensamento que nos alimenta é de que nem tudo esta perdido, já há problemas em demasia. Temos o direito de imaginar utopias e delas nos ancorarmos. Fazer parte de uma corrente de pensamentos e práticas que conduzam ao amanhã, e, confiar na força do pensamento ético, sério e de suas ações decorrentes.

*PAULO BASSANI é sociólogo e professor da UEL 

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