A democracia que vivemos
O contribuinte sempre será lembrado de seus deveres perante o Estado no início de cada ano.
A democracia que vivemos é uma democracia de mercado que substitui a
forma original e avançada de democracia. Nesta, que vivemos, existe o
indivíduo-consumidor, que minimiza o sujeito-cidadão. Consumidor não é cidadão,
é uma parte do mercado, parte onde o mercado se realiza e onde minimiza a
cidadania a um segundo plano. Pois ser consumidor, contribuinte e eleitor
pressupõe um tipo de inserção na sociedade. Uma forma onde sofre as ações
definidas muito distante dele, assim como algo fatalístico, "não há o que
fazer".
O resultado de minha "consciência" manifesto meu
descontentamento nas redes sociais, onde ninguém ouve ninguém. Nossas
manifestações pela internet, no geral, correm soltas, desconectadas com o mundo
real, com as mudanças das organizações coletivas e transformações necessárias.
Pois, neste "ambiente on-line" somos "livres" para
expressar nosso pensamento a um conjunto enorme de surdos, cegos e mudos.
Livres! Minto...mas que curtem as postagens libertárias ou outra que lhe agrade
da mesma forma como bebe um gole d'água. Os demais o mercado absorve,
juntamente com a voz dos imbecis, como dizia o filósofo Umberto Eco.
Esta democracia de baixo teor,
baixa intensidade, baixo controle popular, foi a forma como o sistema encontrou
de dizer, convencer às pessoas que esta é a melhor forma de governo. Não há
nada superior a isto! A história finalística enfim instituída.
Esta, a meu ver, constitui-se numa
visão alienada, coisificada e fetichizada de nosso cotidiano, de nosso viver.
Assim caminhamos em grande parte do mundo ocidental, acreditando, termos
instituído, a melhor forma do "viver democrático" extremamente
adequado ao sistema, em todas as suas manifestações.
Há uma garantia de que pequenas
mudanças que ocorrem, são decorrentes de adaptações mercadológicas a esta forma
de governo e a estes governantes. Nada pode mudar o curso da história. E aos
movimentos sociais "permite-se" sua expressão parcial, aquela que
caminha na ordem dos fatos sem "exageros".
Não há nada mais adequado ao sistema que o
mecanismo montado, um grande circo com palhaços, com palmas, e risos, às vezes
choro, sem conhecer e saber que o risco e as emoções que sentem são
previsíveis, controladas. O circo está montado, a presença é intensa nos
espetáculos do cotidiano, nas falas e imagens televisivas, colocadas pela
mídia, repleto de corrupção, de enganações, de aproveitadores, desleixo do
poder público, violência instituída com assassinatos, assaltos, aumento de
tarifas e dos preços em geral. Tudo recai ao consumidor que, para viver, tem
que se adequar a este tipo de situação para pagar a conta. Há nisso tudo uma
forte sensação de impotência, inércia, diluidora de todo tipo organizacional.
Pois bem, isto é a democracia de mercado, um consumidor-eleitor, enganado o
tempo todo, inclusive em suas escolhas eleitorais. Ah! não podemos esquecer o
contribuinte que sempre será lembrado de seus deveres perante o Estado no
início de cada ano. Assim seguimos, assim aceitamos descontentes, pois se não
fizermos assim outros farão, "fazer o que", amanhã será outro dia.
Democracia e cidadania implica em algo mais, muito mais.
Democracia e cidadania implica em algo mais, muito mais.
Esperamos para
2017!
PAULO
BASSANI é sociólogo e professor da Universidade Estadual de
Londrina e GEAMA
Publicado no Jornal Folha de Londrina
10/01/2017
Pág.02 - Espaço Aberto
Uma percepção nítida da crise conceitual e prática entorno da democracia.
ResponderExcluirBom. Bom mesmo.
ResponderExcluirVamo que vamo.. Continuar a entender a natureza de nossa democracia.
ResponderExcluirA que esta aí, ao que tudo indica, parece ser uma falsa democracia. altamente pertinente as elites dominantes.
ResponderExcluirbrincadeira nossa democracia...estamos longe de alcançar um estagio mais avançado.
ResponderExcluirUma democracia infantil a a nossa. Precisamos de muita luta para atingir a um nível elevado.
ResponderExcluirEstamos assistindo a destruição da democracia norte americana. Prof. Bassani poderia fazer um ensaio sobre esse fato.
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