13 de janeiro de 2017


A democracia que vivemos



O contribuinte sempre será lembrado de seus deveres perante o Estado no início de cada ano.

            A democracia que vivemos é uma democracia de mercado que substitui a forma original e avançada de democracia. Nesta, que vivemos, existe o indivíduo-consumidor, que minimiza o sujeito-cidadão. Consumidor não é cidadão, é uma parte do mercado, parte onde o mercado se realiza e onde minimiza a cidadania a um segundo plano. Pois ser consumidor, contribuinte e eleitor pressupõe um tipo de inserção na sociedade. Uma forma onde sofre as ações definidas muito distante dele, assim como algo fatalístico, "não há o que fazer". 
            O resultado de minha "consciência" manifesto meu descontentamento nas redes sociais, onde ninguém ouve ninguém. Nossas manifestações pela internet, no geral, correm soltas, desconectadas com o mundo real, com as mudanças das organizações coletivas e transformações necessárias. Pois, neste "ambiente on-line" somos "livres" para expressar nosso pensamento a um conjunto enorme de surdos, cegos e mudos. Livres! Minto...mas que curtem as postagens libertárias ou outra que lhe agrade da mesma forma como bebe um gole d'água. Os demais o mercado absorve, juntamente com a voz dos imbecis, como dizia o filósofo Umberto Eco. 
             Esta democracia de baixo teor, baixa intensidade, baixo controle popular, foi a forma como o sistema encontrou de dizer, convencer às pessoas que esta é a melhor forma de governo. Não há nada superior a isto! A história finalística enfim instituída. 
             Esta, a meu ver, constitui-se numa visão alienada, coisificada e fetichizada de nosso cotidiano, de nosso viver. Assim caminhamos em grande parte do mundo ocidental, acreditando, termos instituído, a melhor forma do "viver democrático" extremamente adequado ao sistema, em todas as suas manifestações. 
             Há uma garantia de que pequenas mudanças que ocorrem, são decorrentes de adaptações mercadológicas a esta forma de governo e a estes governantes. Nada pode mudar o curso da história. E aos movimentos sociais "permite-se" sua expressão parcial, aquela que caminha na ordem dos fatos sem "exageros". 
            Não há nada mais adequado ao sistema que o mecanismo montado, um grande circo com palhaços, com palmas, e risos, às vezes choro, sem conhecer e saber que o risco e as emoções que sentem são previsíveis, controladas. O circo está montado, a presença é intensa nos espetáculos do cotidiano, nas falas e imagens televisivas, colocadas pela mídia, repleto de corrupção, de enganações, de aproveitadores, desleixo do poder público, violência instituída com assassinatos, assaltos, aumento de tarifas e dos preços em geral. Tudo recai ao consumidor que, para viver, tem que se adequar a este tipo de situação para pagar a conta. Há nisso tudo uma forte sensação de impotência, inércia, diluidora de todo tipo organizacional. Pois bem, isto é a democracia de mercado, um consumidor-eleitor, enganado o tempo todo, inclusive em suas escolhas eleitorais. Ah! não podemos esquecer o contribuinte que sempre será lembrado de seus deveres perante o Estado no início de cada ano. Assim seguimos, assim aceitamos descontentes, pois se não fizermos assim outros farão, "fazer o que", amanhã será outro dia. 
Democracia e cidadania implica em algo mais, muito mais.
Esperamos para 2017! 

PAULO BASSANI é sociólogo e professor da Universidade Estadual de Londrina e GEAMA

Publicado no Jornal Folha de Londrina 10/01/2017
Pág.02 - Espaço Aberto

7 comentários:

  1. Uma percepção nítida da crise conceitual e prática entorno da democracia.

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  2. Vamo que vamo.. Continuar a entender a natureza de nossa democracia.

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  3. A que esta aí, ao que tudo indica, parece ser uma falsa democracia. altamente pertinente as elites dominantes.

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  4. brincadeira nossa democracia...estamos longe de alcançar um estagio mais avançado.

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  5. Uma democracia infantil a a nossa. Precisamos de muita luta para atingir a um nível elevado.

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  6. Estamos assistindo a destruição da democracia norte americana. Prof. Bassani poderia fazer um ensaio sobre esse fato.

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