Na noite do dia 25 de Abril de 2016, nós, do Grupo de Estudos Avançados sobre o Meio Ambiente (GEAMA), estivemos presentes na III Jornada em Defesa da Reforma Agrária, promovida pelo Programa de Extensão Diálogos Formativos com o Campo. O evento acontece pela 3º vez e surge como uma diretriz do programa, que propicia a integração entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e suas Escolas Itinerantes do norte do Paraná e a Universidade Estadual de Londrina.
A programação remeteu à violência do Estado contra os movimentos sociais das classes trabalhadoras, principalmente as classes de trabalhadores rurais e professores e alunos da rede pública paranaense da Educação Básica e do Ensino Superior, que juntos, neste mês de Abril, relembram os 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás (Pará) e sua impunidade e um ano do massacre aos servidores públicos no Centro Cívico de Curitiba, no dia 29 de Abril de 2015.
Uma exposição de charges foi montada em frente ao Anfiteatro Maior do Centro de Ciências Humanas (CCH) e traziam a problemática desta última importante e violenta ação do Estado contra os professores e os servidores dos mais diversos setores. A exposição estava acompanhada pelos livros da Editora Expressão Popular.
Ilustração (Charge) de Vitor T. (2015).
Foto: Luiz dos Santos
De importância política e simbólica das lutas, conquistas e tristezas do Movimento Sem Terra, uma Mística precedeu à apresentação da mesa de debate e nos rememorou de forma viva e interpretativa a sensibilidade das vidas que foram perdidas e dos direitos que foram violados perante o aparato violento do Estado e das classes dominantes. As pessoas do Acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu interpretaram a ação violenta da polícia contras trabalhadores Sem Terra e relembraram os nomes daqueles que perderam a vida no dia 17 de abril de 1996. O hino do MST foi cantado em coro pelo presentes, desta forma, encerrando a Mística.
Foto: Luiz dos Santos
Herdeiros da Luta durante a Mística que abriu a 3º Jornada em Defesa da Reforma Agrária
Foto: Luiz dos Santos
Mesa de debate composta pelos professores (da esquerda pra direita): Ceres Hadich, Ronaldo Gaspar, Adriana Farias e José Maschio “Ganchão”.
A mesa de debate: “A violência contra os trabalhadores do campo e da cidade: memória e luta”, mediada pela Professora Doutora Adriana Farias, coordenadora do programa Diálogos Formativos com o Campo, foi composta pela Professora Ceres Hadich do Assentamento Maria Lara e os Professores Doutores Ronaldo Gaspar (Departamento de Ciências Sociais), representando o Conselho de Greve, e José Machio (Departamento de Comunicação). À abertura da mesa, Adriana pontuou a dificuldade de trazer a pauta dos movimentos trabalhistas para dentro da universidade.
Foto: Luiz dos Santos
Representando o Movimento Sem Terra, a Professora Ceres contextualizou toda a luta entre as classes trabalhadoras e a classe burguesa, lembrando-nos de como esta problemática se repete na história do Brasil, desde os tempos da colônia, e como os processos de criminalização dos movimentos sociais não são fatos isolados, remetendo esses processos ao poder hegemônico das oligarquias conservadoras.
O Professor Ronaldo Gaspar, dando continuidade à fala, foi direto ao dizer que a ações violentas e antidemocráticas do Estado são corriqueiras em uma sociedade de classes. E que, em geral, encontram-se meios jurídicos e legislativos que justificam estas ações – desde os lobbys políticos até a própria construção de uma jurisprudência que favoreça às burguesias. Trazendo em seu discurso uma perspectiva realista da atual situação política do País, que pode intensificar os movimentos reacionários contra os direitos civis, dos trabalhadores, das mulheres, e das outras minorias.
Após a explanação da mesa, foi-nos apresentado um vídeo produzido pelo MST sobre a história de Eldorado dos Carajás, seguido das perguntas do público presente. Dentre as questões levantadas, exaltamos uma muito importante, levantada pelo Professor Manoel dentro das movimentações sociais: Como enfrentar o aparato de segurança militarizada no contexto em que se observa uma nova onda conservadora emergir na política brasileira? Como enfrentar toda a tecnologia militar que está nas mãos dos poderes hegemônicos?
O Professor Paulo Bassani (Departamento de Ciências Sociais), idealizador do GEAMA, junto à professora Patrícia de Oliveira Rosa da Silva (Departamento de Ciências Biológicas), atual coordenadora do Projeto, também apontou a importância dos movimentos no sentido de eles serem o termômetro de nossas ações e um exemplo para as novas propostas que possam surgir na organização das comunidades, classes, populações e de suas políticas.
Por fim, foi escrita e lida pelo Professor Dr. Manuel uma Carta de Apoio às articulações entre o MST e a UEL e suas lutas conjuntas a favor da democracia e do direito à vida.
Professor Dr. Manuel durante a leitura da carta
Carta em Defesa da Reforma Agrária
"Professores e estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL), representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, educadores e educandos da Escola Itinerante Herdeiros da Luta de Porecatu, reunidos no dia 25 de abril de 2016 durante a 3a. Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, reafirmam sua luta em favor da democratização da estrutura agrária, social, econômica, política e educacional brasileira.
Em um momento em que os frágeis pilares da jovem democracia brasileira estão sob forte ataque, assumimos o compromisso com a defesa da reforma agrária, articulada com a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, bandeiras que visam a construção de um projeto popular para o país.
"Professores e estudantes da Universidade Estadual de Londrina (UEL), representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, educadores e educandos da Escola Itinerante Herdeiros da Luta de Porecatu, reunidos no dia 25 de abril de 2016 durante a 3a. Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, reafirmam sua luta em favor da democratização da estrutura agrária, social, econômica, política e educacional brasileira.
Em um momento em que os frágeis pilares da jovem democracia brasileira estão sob forte ataque, assumimos o compromisso com a defesa da reforma agrária, articulada com a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, bandeiras que visam a construção de um projeto popular para o país.
Em abril de 2016, completa-se 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido na Curva do S, no sul do Pará, e que ocasionou a morte de 21 trabalhadores rurais sem terra, vítimas da ação cruel e covarde da Polícia Militar, sob o comando do então governador Almir Gabriel (PSDB) e seu Secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara. Também em abril de 2016, completa-se um ano do Massacre de 29 de abril, quando a Polícia Militar, sob o comando do governador Beto Richa (PSDB) e do Secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Francischini, despejou mais de 700 bombas de efeito moral sobre professores e estudantes do Paraná que lutavam contra o roubo da Previdência do estado. Até hoje, mandantes e executores desses abomináveis episódios da história nacional continuam impunes.
Diante da atual conjuntura de acirramento da criminalização dos movimentos sociais, reconhecemos a legitimidade das lutas de ação direta em defesa da democratização da terra, da educação, da cultura e da comunicação e exigimos a punição de todos aqueles que propagam a violência no campo e na cidade.
Londrina, 25 de abril de 2016.
Auditório Maior do Centro de Letras e Ciências Humanas"
Londrina, 25 de abril de 2016.
Auditório Maior do Centro de Letras e Ciências Humanas"
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