16 de agosto de 2013

Para tentar entender o momento
*Paulo Bassani
            Hoje um problema de ordem teórica e de ordem prática é o de entender, no meio de tantos conflitos postos pela dinâmica da realidade social neste início de século, quais são as perguntas ou formulações pertinentes que possam dar conta das questões que emergem num mundo que se transforma rapidamente. Como observa Sousa Santos: Num mundo onde há tanto para se criticar por que se tornou tão difícil produzir uma teoria crítica? E, nessa esteira, por teoria crítica entendo como a que está próxima a um campo de possibilidades que possa avaliar a natureza e o conjunto de alternativas que estão se moldando na concretude do cotidiano. Lembro, em tempo, que essa tarefa não consiste em reduzir a "realidade" ao que existe, mas em perceber o conjunto de elementos implícitos, subjetivos, não evidenciados, não identificados, em construção, que, portanto, compete ao olhar crítico entender o leque de possibilidades interpretativas. Superar conceitos engessados e os preconceitos dos apressados causa desconforto e certa indignação onde tudo pode ser dito e tudo pode ser questionado. Uma relativização perigosa que somente com atenção, muita observação, acompanhamento e uma metodologia que não ignora e nem minimize os fatos e as experiências que se compõem e recompõem, pois poderão, no percurso, evidenciar algumas tendências indicadoras de um conjunto de sociabilidades embrionárias, que ora tendem a se manifestar ora tendem a desaparecer.
            Nessa trajetória, o que podemos desenvolver são formulações perspicazes, sem a pressa de possíveis respostas, definições, que dirá de certezas, pois estas passam distante de nossa vã compreensão racional. Vivemos numa sociedade da informação e de conhecimentos, todas as tecnologias produzidas nos últimos anos impulsionaram uma série de mudanças que ampliou a produção, a produtividade e o consumo dos materiais produzidos pelo capital. O período é de aumento das formas comunicativas que se por um lado aliena, fragmenta; por outro, aproxima e estabelece formatos diferenciados de sociabilidade. Esse é o momento que a modernidade capitalista, com suas contradições e dicotomias, possibilita instrumentos comunicativos com uma dimensão abrangente jamais vista e experimentada. Isso nos permite desenvolver uma imaginação que, muito provavelmente, não conseguirá ver o fim. Vemos apenas o começo e alguns de seus desdobramentos. Sabemos como começa, mas de pouco ou quase nada, como termina.
            Se há uma dificuldade de manter uma coerência em análises teóricas, que dirá manter esta mesma coerência computando o movimento da realidade na concretude dos fatos, e tentar definir com maior nitidez os elementos chaves dessa movimentação. Essa é nossa sina, entender, mas sabendo que esse entendimento beira um fosso profundo e nebuloso, por diferentes lados cercados de elementos que, somente quando a névoa baixar, poderemos tentar definir melhores traçados.
            Enquanto isso, continuamos a observar com atenção para conhecer, para rever as formas de articulação e os métodos interpretativos de nossos agentes de mediação, de nossas instituições de pesquisa e quem sabe perceber e entender onde se encontram nossas limitações e nossa dificuldade de apreender com o movimento. Fixar o que é importante, e não simplesmente desperdiçar a experiência, pois é deste tecido que nossa costura analítica circunda. Daí poderá emergir a criação de um pensamento crítico de longo prazo.
                                   *PAULO BASSANI é professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Londrina

 Publicado no dia 14/08/2013 na Folha de Londrina.

Um comentário:

  1. Este artigo parece completar os dois primeiros sobre os protestos e manifestações no Brasil de hoje. Refiro-me: "Forjando o Processo democrático" - no JL e "O Encantamento de uma geração" na FL.

    Legal !!!

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