Para tentar entender o momento
*Paulo Bassani
Hoje um problema de ordem teórica e
de ordem prática é o de entender, no meio de tantos conflitos postos pela
dinâmica da realidade social neste início de século, quais são as perguntas ou
formulações pertinentes que possam dar conta das questões que emergem num mundo
que se transforma rapidamente. Como observa Sousa Santos: Num mundo onde há
tanto para se criticar por que se tornou tão difícil produzir uma teoria
crítica? E, nessa esteira, por teoria crítica entendo como a que está próxima a
um campo de possibilidades que possa avaliar a natureza e o conjunto de
alternativas que estão se moldando na concretude do cotidiano. Lembro, em
tempo, que essa tarefa não consiste em reduzir a "realidade" ao que
existe, mas em perceber o conjunto de elementos implícitos, subjetivos, não
evidenciados, não identificados, em construção, que, portanto, compete ao olhar
crítico entender o leque de possibilidades interpretativas. Superar conceitos
engessados e os preconceitos dos apressados causa desconforto e certa indignação
onde tudo pode ser dito e tudo pode ser questionado. Uma relativização perigosa
que somente com atenção, muita observação, acompanhamento e uma metodologia que
não ignora e nem minimize os fatos e as experiências que se compõem e
recompõem, pois poderão, no percurso, evidenciar algumas tendências indicadoras
de um conjunto de sociabilidades embrionárias, que ora tendem a se manifestar
ora tendem a desaparecer.
Nessa trajetória, o que podemos
desenvolver são formulações perspicazes, sem a pressa de possíveis respostas,
definições, que dirá de certezas, pois estas passam distante de nossa vã
compreensão racional. Vivemos numa sociedade da informação e de conhecimentos,
todas as tecnologias produzidas nos últimos anos impulsionaram uma série de
mudanças que ampliou a produção, a produtividade e o consumo dos materiais
produzidos pelo capital. O período é de aumento das formas comunicativas que se
por um lado aliena, fragmenta; por outro, aproxima e estabelece formatos
diferenciados de sociabilidade. Esse é o momento que a modernidade capitalista,
com suas contradições e dicotomias, possibilita instrumentos comunicativos com
uma dimensão abrangente jamais vista e experimentada. Isso nos permite
desenvolver uma imaginação que, muito provavelmente, não conseguirá ver o fim.
Vemos apenas o começo e alguns de seus desdobramentos. Sabemos como começa, mas
de pouco ou quase nada, como termina.
Se há uma dificuldade de manter uma
coerência em análises teóricas, que dirá manter esta mesma coerência computando
o movimento da realidade na concretude dos fatos, e tentar definir com maior
nitidez os elementos chaves dessa movimentação. Essa é nossa sina, entender,
mas sabendo que esse entendimento beira um fosso profundo e nebuloso, por
diferentes lados cercados de elementos que, somente quando a névoa baixar,
poderemos tentar definir melhores traçados.
Enquanto isso, continuamos a
observar com atenção para conhecer, para rever as formas de articulação e os
métodos interpretativos de nossos agentes de mediação, de nossas instituições
de pesquisa e quem sabe perceber e entender onde se encontram nossas limitações
e nossa dificuldade de apreender com o movimento. Fixar o que é importante, e
não simplesmente desperdiçar a experiência, pois é deste tecido que nossa
costura analítica circunda. Daí poderá emergir a criação de um pensamento
crítico de longo prazo.
*PAULO
BASSANI é professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade
Estadual de Londrina
Este artigo parece completar os dois primeiros sobre os protestos e manifestações no Brasil de hoje. Refiro-me: "Forjando o Processo democrático" - no JL e "O Encantamento de uma geração" na FL.
ResponderExcluirLegal !!!