5 de julho de 2013

O ENCANTAMENTO DE UMA GERAÇÃO


                                                                                     *Paulo Bassani


            Há um descontentamento geral na população em relação a diferentes dimensões da vida. Toda uma geração pós anos militar imaginou, sonhou com um Brasil melhor, mais democrático, mais justo, com grandes investimentos em áreas sociais e com toda uma construção social que permitisse uma melhor qualidade de vida para todos, sobretudo aos excluídos, aos trabalhadores e aos segmentos médios da população. Nisto, os sintomas da crise democrática, chegaram a um ponto insuportável.
            As primeiras experiências de lutas sociais, deste período, foram para reivindicar a abertura política no Brasil com as diretas já.  Em agosto de 1992, os caras pintadas saem as ruas para exigir o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Em maio de 2010 uma mobilização com mais de 1,3 milhões de assinaturas em apoio à proposta de lei que propõe a inelegibilidade de políticos condenados criminalmente: Lei da Ficha Limpa. Neste mês de junho de 2013 mais uma demonstração da articulação de personagens que, por algum tempo, acreditaram e confiaram no sistema formal e tradicional político, nas formas representativas, na espera. O que se viu, no geral, um sistema viciado, corporativo, corrupto.
            Diante deste quadro, emergem grandes mobilizações por todo o país, diante do desafio de reinventar-se através das formas de articulação pelas redes sociais, questionando os modelos tradicionais, sobretudo de sindicatos e partidos políticos. Mas também questionando o poder articulatório das classes médias e dos jovens, em muitos momentos, questionados por sua acomodação nos últimos anos.
            E o que isso representa em termos de novidade política?  Podem-se apontar algumas questões. Um processo de deterioração entre os representantes e os representados. Um tipo de manifestação com motivações heterogêneas que refletem uma cidade mal tratada e desigual. Um ultimato em relação ao baixo investimento em educação, saúde, ciência e tecnologias sustentáveis geradoras de emprego. Mudanças nas instituições políticas que faça recuperar a confiança na institucionalidade e credibilidade que devem ter para com a sociedade. A  urgência da criação de canais, pelo poder público, de vias que possibilitem a participação adequada, constante e decisória: Isto é, provocar a ampliação do espaço público. Isso remete estabelecer um novo contrato social, com cidadania plena: ouvir, participar, propor e avaliar políticas públicas, conferindo-lhes a legitimidade necessária.
            Hoje está em curso uma reconstrução democrática vinda das ruas. E conquistar as ruas se dá pela presença, pelos passos, pelas vozes pela persistência de diversos setores da sociedade onde focos diversos encontram unidade na dureza do asfalto, no brilho dos olhos, nas emoções dos jovens, mulheres e homens que não fogem a luta. Sob o sol, a chuva ou ao anoitecer toda hora é hora de fazer política, de amadurecer as formas coletivas de um encontro marcado com a democracia. A quem se refere à violência, mas esta apenas espelha a violência que está prenhe nas formas de conviver edificadas pelo nosso modelo de modernidade.
            Não adianta buscar nomes, caras, a sociedade está se movimentando, questionando o formato tradicional para moldar uma agenda compromissada, ética com a cara de um novo tempo. Um tempo de uma geração em busca de outros referencias e o encantamento de viver.   

    * Sociólogo e Professor da Universidade Estadual de Londrina

Folha de Londrina
Espaço Aberto – página 02 – Data: 26/06/2013



5 comentários:

  1. Concordo com as análises do Bassani.

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  2. Uma análise firme e consciente.

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  3. realmente temos que acreditar nesta nova geração. Apesar de todas as contradições que ela sofre pelas influ~encias de uma mídea distorcida, de um sistema corrupto e de uma lógica avessa.

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  4. Reflexão pertinente para o momento.

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