26/06/2013 | 00:02Paulo Bassani
As atuais mobilizações, protestos, passeatas formam o novo movimento social que pode, no percurso, assumir dimensões inimagináveis, forjando com a sola do pé, com a gesticulação das mãos e com a força das vozes um formato de luta inovadora, quer para o poder instituído, quer para o analista de movimentos sociais. Nisto somos aprendizes de uma democracia emergente, muito mais elaborada que a desenvolvida até então. Veremos capítulos que poderão apontar novos percursos teóricos e políticos para a experiência de vida necessária aos desafios do século XXI. Afinal, esta é matéria-prima que se constitui a democracia.
Há um componente novo criado pela própria modernidade: as redes sociais, um trunfo comunicativo e organizativo para expandir as motivações cidadãs e emancipatórias. São aparelhos representativos da alta modernidade e através deles há um questionamento do modelo de modernidade injusta e contraditória.
Vivemos um tempo social, todo particular, onde forças emergem desse contexto. Observamos diferentes grupos sociais que traduzem de uma forma mobilizadora, nas ruas, algo que reflete a inquietação de muitos, e problemas de outros tempos que não tiveram a devida atenção. Friso: o espaço de mobilização e debate ocorre nas ruas. E neste território permite-se pensar as possibilidades de transformações cotidianas numa sociedade democrática ainda em formação.
Hoje, jovens e muitos outros, a partir de uma conectividade virtual, constroem uma prática coletiva tecida e costurada no asfalto urbano. Na caminhada, o calor e reflexão coletivos ocorrem como uma escola de aprendizagens que atormentam os gestores públicos, os empresários e, provocam formas inusitadas de lutar e protestar. Nessa tormenta o coletivo se forja apropriando-se de fragmentos na construção de conteúdos simbólicos e concretos. Não há como buscar uma ideia, um formato gerador. Presencia-se formatos políticos que se aprendem em cada passo da caminhada. Não há como identificar um protagonista - inúmeros atores compõem o processo, que é múltiplo na diversidade de intenções e ações e aponta o esgotamento de um modelo.
Esse quadro, para além de formas estabelecidas e por ora inexplicável, é gerador de possíveis trajetórias para um novo tempo em construção. Nas mobilizações vindas das ruas há um leque de perspectivas onde anseios de diferentes segmentos da sociedade apresentam e representam significados incubados nas últimas décadas. Agora, acordados, estão dispostos a percorrer um longo percurso. Há um deslocamento do espaço político tradicional para um território ainda pouco conhecido, onde ocorre uma reinvenção das formas de luta pelos direitos fundamentais desassistidos pelo Estado.
Esses movimentos representam uma mudança cultural sobre a base de um modelo que se esgota. E aí surge uma realidade que a partir das ruas coloca e atribui novos significados e práticas de cidadania, dos direitos e do Estado.
*Paulo Bassani é sociólogo e professor da UEL
Construir um tempo de democracia plena é que devemos fazer. Bassani nos indica algumas pistas.
ResponderExcluirParabéns.
Forjando etomando consci~encia para construir um país melhor. Por aí...
ResponderExcluirQuem sabe, Bassani, vc. possa nos indicar alguns caminhos na construção democrática necessária para nosso país. Aguardo !
ResponderExcluirUma perspectiva crítica bem construída e atenta as coisas de nosso tempo. Há uma movimentação de pessoas, de ideias, de novas perspectivas. Tudo gira em torno de construções que podem nos levar para cá ou para lá. Vamos acompanhando.
ResponderExcluirEspero que a luta não pare. O brasil e os brasileiros precisam mudar...
ExcluirA luta deve ser estendida em todos os segmentos, em todos os setores da sociedade. Para que a sociedade possa mudar, o pelo menos começar.
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