14 de setembro de 2012

Prof. Paulo Bassani publica no espaço Ponto de Vista do dia 14 de setembro de 2012 do Jornal de Londrina.

O local sustentável e o sujeito

Mais do que em qualquer outra época, busca-se hoje em dia articular processos científicos, tecnológicos e culturais com o âmbito do meio ambiente. Não é pouco: é por este caminho que estão as melhores definições e procedimentos para o tópico em questão, isto é, as formas possíveis de transformação social da natureza, tendo sempre como pano de fundo o cenário do ambiente sustentável. E que não se pense em uma construção rápida, em soluções fulminantes, pois tal coisa resulta de atitudes alternativas e, muitas vezes, em contraste com hábitos predominantes na sociedade.
Crescer, econômica e socialmente, sem perder a identidade, mantendo ainda as qualidades ecológicas de uma região, de um território, não é tarefa fácil, uma vez que exige vários tipos de enfrentamento no tocante a interesses antagônicos, conflitos, comportamentos discrepantes e, não menos importante, atitudes socioprodutivas; tudo isso presente em uma forma de pensamento e ação nunca descolada de um determinado tempo, espaço, lugar. Atuar no interior desta lógica, não apenas preservacionista, mas também recuperadora, requer múltiplos atores envolvidos, o reconhecimento dos custos e dos benefícios demandados por tal desdobramento sustentável. Numa primeira instância, a instalação de um estágio de autodeterminação de uma determinada comunidade a partir de suas reais potencialidades e necessidades, um projeto imaginário no qual se colocam as formas alternativas de fundar a vida. E numa instância seguinte criar as aproximações e expectativas dos atores participantes com as potencialidades locais.
O local o qual se estruturam os municípios é um espaço onde atores podem exercitar a cidadania plena, criando e participando de ações com significados políticos, ajustando e avaliando iniciativas sustentáveis desejadas por todos. Isto é, a forma como os atores apreendem e se apropriam dos objetos ao se posicionar. O espaço territorial e cultural, a localidade, exprime a pertença que se constrói e se manifesta na organização das relações sociais que se manifestam de forma objetiva e subjetiva a partir de uma identificação da particularidade de ver e viver o mundo. Estas manifestações revelam, de uma forma ou de outra, elementos integradores com a dinâmica local, sem a qual, tudo indica, não haveria possibilidade de sociabilidade possível, fundada por normas e práticas, aceitas e testadas pela experiência cotidiana. O cotidiano local é também produtor de formas imaginadas ou vivenciadas que compõem um imaginário, ao mesmo tempo em que, estabelece elementos vinculares do conjunto de relações necessárias para elos partilhados pelos vínculos sociais com todos os demais atores envolvidos.
O local coloca em sintonia o foco do cotidiano, funda a relação do sujeito com o mundo e também com outros atores que fixam o vínculo social através de fatores materiais e imateriais. As escalas de visão e alcance do sujeito nessa dimensão dependem da capacidade de ler, interpretar e atuar num mundo em transformação. 
*Paulo Bassani é sociólogo e professor da Universidade Estadual de Londrina

2 comentários:

  1. Bem construido. Um percepção crítica desta modernidade e das potencialidades locais.

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  2. Parabéns prof. Bassani.

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