Democratizar a informação ou espalhar informação para democratizar as redes?Compreendendo esses dois processos não como etapas sequenciais , mas sim, como complementares, é provável que o equilíbrio e a simbiose entre ambos seja o caminho mais viável. Pelo menos é isso o que pôde ser constatado durante o “ I Encontro Mundial de Blogueiros” ocorrido em Foz do Iguaçu-PR , nos últimos dias 27, 28 e 29 de Outubro. O encontro contou com 654 inscritos e foi organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom).
Jornalistas, pesquisadores e diversos profissionais da comunicação estiveram lá reunidos com o intuito de trocar experiência sobre funções desempenhadas pelas novas mídias digitais. Buscou-se não apenas um olhar distanciado e reflexivo sobre o caso, mas sim o debate visando um diágnóstico mais a fundo da situação.
Diferentemente do que o nome pode sugerir, os presentes por lá não eram administradores de blogs sobre cultura , ou portais de humor e entretenimento. O enfoque dado, foi a portais e grupos de cunho informacional, ligados principalmente à temáticas políticas nos mais diferenciados contextos. A mesa do dia 29 por exemplo, contou com a participação de Ahmed Bahgat ativista egípcio que acompanhou “in loco” as movimentações ocorridas no país no início de 2011, envolvendo os protestos populares contra o regime do então presidente Hosni Mubarak. Embora o episódio tenha sido marcado por intensas manifestações populares, Bahgat afirmou que redes sociais como o facebook tiveram alguma importância na organização de movimentações, uma vez que se tratavam de meios isentos ao controle do Estado e à censura que se estabeleceu naquele contexto.
No evento estiveram presentes também nomes de peso como o escritor e jornalista Ignácio Ramonet – Editor chefe do jornal Le Monde Diplomatqué, - Segundo ele, as novas mídias estão colocando o ofício do jornalismo em um grande crise de identidade “ O jornalista já não sabe mais para quê trabalha, as mídias tradicionais perderam o monopólio da informação para os blogueiros” e ainda ressaltou que diferente do que o senso comum pode achar, esses novos canais independentes não são todos contra o conservadorismo e favoráveis à democratização da informação “ Há muitos blogueiros reacionários e conservadores” acrescentou Ramonet. Estiveram presentes no evento também os jornalistas Paschoal Serrano, Pepe Escobar e colunistas de publicações importantes como Huffington Post e o Democracy Now.
Um nome aguardado, e que participou também da mesa no dia 28, foi Kristin Hrafnsson, jornalista Islandês, porta-voz do portal Wikileaks ( que ganhou notoriedade desde 2010, quando passou a “vazar” na internet informações confidenciais e documentos secretos de governos e grandes empresas ). Hrafnsson comentou sobre a importância da informação passada com transparência para o grande público, e citou uma su
posta “lacuna” que se formou no jornalismo nos últimos anos, em relação a esse tipo de informação. Comentou também sobre a “censura econômica” pela qual o portal, têm passado desde o final de 2010, envolvendo empresas como Visa, Paypal e Bank of America que além de bloquear doações e contribuições em dinheiro dos usuários, têm dificultado o trabalho de manutenção da rede Wikileaks. Kristin informou também, que atualmente o portal passa por uma reestruturação, devido aos problemas e também para correção de falhas de segurança do portal. Dia 28 de Novembro, segundo ele, é a data em que o portal deverá ser reativado novamente.
De fato, falar em ativismo digital, por si só já é um paradoxo extremo. O ativista e cartunista Carlos Latuff, participante em uma das mesas ressaltou isso em uma de suas falas “ movimentações somente podem ocorrer através da união das pessoas e com ações urgentes de interferência direta”. Entretanto não se pode negar que em meio a contextos de repressão e controle, a internet assim como as redes sociais representam uma terceira via emblemática, entre o controle das grandes empresas e os governos totalitários. Assim, é importante abrir os olhos para como essas ferramentas já vêm interferido ( e até impulsionado) movimentos de transformação por todo o mundo.

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www.blogueirosdomundo.com.br
Por Bruno Leonel
Equipe Gestora GEAMA
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