No dia 29 de junho, as capas dos principais jornais da cidade registraram: “Londrina amanhece mais verde”. Tratou-se do informe publicitário de inauguração do mais novo empreendimento imobiliário da cidade: o EcoMercado Palhano. Como o próprio slogan do estabelecimento diz, a proposta é combinar gastronomia, lazer e cultura.
Mesmo antes de abrir as portas, o EcoMercado venceu o prêmio Planeta Casa, da Revista Cláudia, na categoria de empreendimento imobiliário. Tal prêmio é cobiçado por empresas que adotam a filosofia da sustentabilidade como forma de promover a preservação do meio ambiente, o bem-estar e o desenvolvimento econômico sustentável da comunidade em que o projeto está inserido.
Dando uma volta pelo mercado, é possível perceber em sua estrutura a intenção de um projeto arquitetônico que privilegia a integração com a natureza e vai de encontro com a proposta da sustentabilidade, uma vez que utiliza luminárias com certificação ambiental, boxes projetados para receber luz e ventilação natural etc.
Dois dias antes de sua inauguração, a Sema (Secretaria Municipal do Ambiente) multou o estabelecimento por “despejo irregular no corpo hídrico”, alegando que, após o termino das obras, materiais poluentes foram despejados no Lago Igapó 2. A equipe de fiscais da Sema disse que não encontrou irregularidades durante a vistoria. Porém, o secretário municipal do ambiente, José Novaes Faraco, diz ter verificado pessoalmente o despejo de materiais poluentes no Igapó. Segundo informações, o responsável pela obra se negou a assinar a autuação. Dessa forma, a multa será enviada por correio, e o EcoMercado tem 20 dias para recorrer.
O GEAMA ainda não possui informações acerca da veracidade do fato, porém, independente disso, tem algumas considerações a fazer.
Uma semana antes da inauguração do EcoMercado, aconteceu em Londrina a 10ª Jornada de Agroecologia. Aqui no blog publicamos um texto com informações sobre como foi a Jornada, seus princípios e objetivos (está logo abaixo, dê uma olhada!).
A declaração da coordenadora da Secretaria Operativa da Jornada, Vanessa Gardim, relata que – ao contrário do que foi publicado no blog do GEAMA – mais de 4 mil pessoas participaram do evento, e não 3600, como havíamos dito! Foram, enfim, 4 mil pessoas reunidas em torno da proposta da Agroecologia: “cuidando da terra, cultivando biodiversidade e colhendo soberania alimentar”. Durante a Jornada, produtos orgânicos da reforma agrária e da agricultura familiar foram comercializados na Feira do Produtor a preços acessíveis. Queremos chegar na seguinte questão: a imprensa deu pouquíssimo destaque à Jornada, à presença desses mais de 4 mil trabalhadores rurais e à causa da agroecologia, que é no mínimo louvável. Impossível não traçar um paralelo de comparação em relação ao destaque dado pela imprensa londrinense ao novo mercado da Palhano.
O EcoMercado Palhano oferece, também, produtos orgânicos. Desde alimentos até roupas e produtos de limpeza. Os preços, porém, assustam. Um detergente de cozinha, feito com produtos não poluentes, custa em torno de R$15. É preciso ter realmente muito dinheiro para ser ecologicamente correto diante dessa conjuntura. Localizado em uma das áreas mais privilegiadas da cidade – às margens do Igapó – o EcoMercado visa atender às famílias londrinenses de classe alta, capazes de pagar caro por produtos de qualidade e que ajudam a preservar o ambiente. E as famílias de menor poder aquisitivo? Exercem menor responsabilidade ambiental por não poder pagar pelo produto menos poluente?
Enquanto os freqüentadores do EcoMercado são constituídos, basicamente da classe alta londrinense, a Agroecologia é a bandeira de luta da classe trabalhadora do campo e da cidade. São classes diferentes se apropriando da mesma causa, com destaques diferentes dados pela imprensa. O objetivo do GEAMA não é julgar o mercado, mas sim, fazer um adendo à imprensa londrinense e levantar entre os cidadãos questões importantíssimas, como a utilização do selo verde como forma de marketing e a acessibilidade da população a produtos ecologicamente corretos.
Ana Carolina Luz
Olá, Ana! Em primeiro lugar, quero parabenizá-la pelo blog com bastante conteúdo e de qualidade. Devem ser um orgulho para a universidade! Agradeço pelo link ao site da Revista Sustentabilidade e aproveito para informar que, caso ache interessante, é possível adicionar um widget dinâmico com as últimas notícias da Revista na barra lateral do blog. É muito simples a instalação, veja: http://www.facebook.com/note.php?note_id=10150554278015287
ResponderExcluirÉ isso, um grande abraço!
Muito legal esse contato.
ResponderExcluirAna, acho muito interessante a sua observação, aliás era isso que deveria ser discutido na mesa-redonda, realizada no dia 29/04, onde a proposta era sobre "Comunicação, educação e cidadania ambiental", quando a promotora da cidade participou, e também participou, com uma participação intensa e cheia de arrogância, um dos jornalistas do principal jornal de Londrina, o qual levou à circulação essa manchete do mercado. Enfim, que bom saber que pensamos da mesma forma, porque com aquela mesa-redonda me deu até dor de barriga de tanta raiva que eu fiquei daquelas besteiras que foram ditas.
ResponderExcluirAcho importante discussões como essa serem levantadas no evento do GEAMA, aproveitando a participação da comunidade externa à universidade, que está cansada desse discurso sustentável que responsabiliza o indivíduo e coloca como fator principal da poluição ambiental a "falta de comunicação entre os vizinhos", eu não acreditei que uma pessoa que faz parte de uma ONG ambientalisa tem a cara de pau de falar isso...indignação!
ResponderExcluirParabéns a equipe do GEAMA pro possibilitar esses debates. Existem muitas versões.
ResponderExcluirAchei interessante os comentários sobre o Ecomercado Palhano, mas de todos os fatos, o que me chamou mais atenção foi a publicação da súmula de pedido de Licença de Operação a menos de três dias da Inauguração. Minha pergunta é a seguinte: o Ecomercado Palhano (ecologicamente correto) foi inaugurado já com sua licença de operação - diga-se de passagem, caso tenha sido esta hipótese, EM TEMPO RECORTE? Ou teria sido inaugurado sem a Licença de Operação emitida pelo IAP? Além disto a informação que chega-se é que a obra não possui habite-se emitido pela Pref. Municipal. Ahhh...também visitei o Ecomercado Palhano e durante toda minha visita busquei por uma lixeira de resíduos orgânicos em área pública e não achei, tive que pedir para jogar o resíduos em uma lixeira de uma loja. Alguém viu as lixeiras? Afinal, como que um mercado que se propõe a ser ECO pode funcionar sem habite-se, sem licença de operação, ser multado por despejo irregular em corpo hídrico e ainda ter utilizado a quantidade de concreto suficiente para a construção de um prédio de 21 andares, informação esta veiculada pelo próprio engenheiro da obra? Falar em meio ambiente todos podem e devem falar, agora fazer meio ambiente, torna-se claro que não é para qualquer um!!!
ResponderExcluirCabe ainda lembrar que precisamos cobrar da impressa não somente materiais pagas, mas também a sua função maior que é a publicação de informações verdadeiras. Chega de pirotecnia ambiental!!!
Parabéns ao GEAMA por trazer discussões como esta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirIncluo esta notícia para enriquecer a discussão sobre o tema:
ResponderExcluirConsciência dos consumidores contra a ‘maquiagem verde’ nas empresas
Por Christina Lima, editora do Nós da Comunicação
Divulgada na segunda quinzena de junho, a pesquisa 'Grau de Consciência Verde dos Consumidores', produzida pela consultoria Kantar Worldpanel, indicou que 36% dos brasileiros consultados não acreditam nas campanhas verdes das empresas. Na América Latina a pergunta 'Quando uma empresa faz publicidade/comunicação de ações positivas para a sociedade e para o meio-ambiente você...' foi respondida nos seguintes termos: 'Não acredito', 39%; 'Acho difícil acreditar', 35% (porque não vejo o resultado final), além de 'Confio na mensagem e a valorizo', 26%.
Outro dado do estudo realizado em São Paulo, Rio de Janeiro e em grandes cidades de 15 países da América Latina, aponta que 29% dos entrevistados declararam sequer saber da existência de empresas que realizem ações de sustentabilidade. Para transformar esse cenário, na opinião dos entrevistados, a responsabilidade de influenciar mudanças na questão ambiental é dos próprios brasileiros; 79% disseram que o poder está na mão da sociedade como um todo, 40% indicam os meios de comunicação como os maiores influenciadores e 39%, as instituições de educação. Esse descrédito no empresariado parece refletir os anos de irresponsabilidade socioambiental e greenwashing nas organizações.
Para combater a 'maquiagem verde' que a comunicação muitas vezes ajuda a construir, a sociedade conta a partir de agosto com um importante instrumento: as novas regras do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) para normatizar peças de propaganda baseadas em apelos de sustentabilidade. A ideia é coibir a utilização do tema de forma banal a fim de não confundir os consumidores.
As mensagens agora devem obedecer princípios de concretude; veracidade; exatidão e clareza; comprovação e fontes; pertinência e relevância. Segundo o código atualizado "as alegações de benefícios socioambientais deverão corresponder a práticas concretas adotadas, evitando-se conceitos vagos que ensejem acepções equivocadas ou mais abrangentes do que as condutas apregoadas". E segue: "A publicidade de condutas sustentáveis e ambientais deve ser antecedida pela efetiva adoção ou formalização de tal postura por parte da empresa ou instituição. Caso a publicidade apregoe ação futura, é indispensável revelar tal condição de expectativa de ato não concretizado no momento da veiculação do anúncio". As novas normas entram em vigor em 1º de agosto e valem para todos os meios de comunicação, inclusive internet.
Muito interessante a criação dessas novas normas. É fundamental que, ainda que seja pago, o conteúdo do jornal represente de fato a realidade, afinal, esse é o objetivo do jornalismo.
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