29 de abril de 2020


                Para pensar a mensagem do vírus*
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Como um ser tão pequeno, submicroscópico e tão letal pode nos amedrontar, transtornar nosso cotidiano envolto de preocupações típicas de nosso mundo. Um vírus que não tem uma língua, não tem fronteiras e apresenta-se para todos os humanos com seu poder destruidor, de forma invisível e silenciosa. Pelos cinco continentes se espalhou, e ao que tudo indica não gosta muito de temperaturas quentes e nem tão frias aprecia temperaturas amenas.
Aparece e quer coabitar em nossas vidas nas melhores condições que o planeta nos oferece. Esperto esse vírus, pois não se demonstra facilmente a ciência, nem tão pouco quer viver em desertos ou em regiões glaciares. Quer estar onde a vida acontece com tudo de bom e de ruim que a civilização construiu.
Quais as razões comuns e complementares que compõem esses arranjos criados da mesma forma numa lógica inexplicável, com ações incompreensíveis. Com códigos genéticos indecifráveis, desafia o conhecimento adquirido e toda ciência ainda tem pouco a nos dizer.
A rigor, não posso concordar plenamente com o que vem sendo dito sobre o vírus mortal. Cabe, neste momento, indagar sobre as causas deste vírus, para depois trabalharmos nas suas conseqüências em si. Isto porque a formulação de questões, de perguntas, está na base da construção do conhecimento científico. Queremos dizer que observações mais precisas mostram que este fenômeno ainda contém muitos mistérios, o que temos em mãos são apenas pistas alentadoras que só produzem um pequeno passo adiante na compreensão deste que afeta a vida humana no planeta como um todo. Por isso hoje só estamos de posse de uma compreensão parcial deste fenômeno.
Trata-se, neste momento, de examinar as correlações, suas conexões com os indicadores conhecidos e apresentados. E esse conhecimento, a meu ver, e de muitos outros, não pode ser formatado pela compreensão do fenômeno tomado isoladamente, ou de uma única causa, há elementos imbricados, alguns conhecidos outros desconhecidos. A possível “certeza”, fundamenta-se basicamente desta multiplicidade de elementos. Os riscos dos “erros” serão tão menores quando for desmembrada a complexidade por ele apresentada, para tornar a soma das evidências, em algo que reduza a complexidade em elementos inteligíveis numa coerência que possa ser facilmente entendida.
Teremos, em breve, é o que imaginamos um saber sistematizado, que possa trazer alento a todos. Compreendemos através de um princípio que vá do geral ao específico, de um fenômeno abstrato para suas especificidades concretas. Onde perguntas e formulações científicas poderão ser esclarecedoras e compreensíveis, de forma sistemática para a população em geral.
Cabe dizer, “seu COVID-19”, o senhor, ou senhora, não é bem-vindo para coabitar conosco, você já nos alertou a necessidade de mudarmos, já foi longe demais, nos dê esta oportunidade de ajustarmos nossa rota, tomarmos outro caminho. Estamos nesse tempo, construindo novos mapas, possibilitados por você, mas você não fará mais parte, pois entendemos a mensagem que nos deixaste. Vá e não retorne, permita que a humanidade tenha outra chance de acertar.

    *Paulo Bassani, professor doutor em Ciências Sociais da UEL e sociólogo

   **Folha de Londrina – Espaço Aberto- pág. 02 - 29 Abril 2020

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