A educação crítica: uma invenção necessária*
Neste momento que há um descontentamento, por parte da
população, com os sistemas políticos constituídos, não podemos admitir que as
diferenças nas condições básicas da vida cresçam, se ampliem, pelo contrário,
em tudo devemos nos empenhar para acabar com estas diferenças.
Há uma tensão civilizacional em curso, esta tensão é
econômica, social, política, ambiental, ética. Um tensionamento em inúmeras
dimensões da vida que, pela perplexidade que gera, evidencia um fosso crescente
na sociedade. Podemos afirmar que vivemos num mundo de muitas
incertezas, altos riscos.
Não podemos aceitar a negação da ciência que nos trouxe até
este estágio civilizacional, ela, sempre que conduzida de forma profunda e
ética poderá garantir a permanência da espécie pensante, imaginativa e
criativa. Tão pouco negarmos a filosofia que nos preservou a manter ideias
éticas e valores civilizacionais
Pensar e educar implica, neste momento, em desconstruir as
formas de esfacelamento das relações humanas, e compreender a finitude humana e
planetária. Entender que somos a natureza que pensa, a natureza que cuida, a
natureza ética que nos acolhe e possibilita a vida. E agora não apenas nossa
vida humana, mas toda a manifestação de vida existente no planeta, micro e
macro, do planeta que é vida e integra a vida visível e invisível que se faz
presente em todos os cantos da casa comum.
A
educação crítica, continuada intensa e transformadora torna-se urgente e
necessária. Um informe realizado pela Unesco, de Jacques Delors (1996), fixava
os pilares para uma educação para o século XXI: "Aprende a conhecer,
aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos". Estas seriam
as bases centrais e transformadoras em processos de aprendizagens necessárias a
serem trabalhadas em todas as instâncias do universo educativo. Isto para
propiciar condições de desenvolver a capacidade crítica, pensamento que orienta
os traçados das transformações necessárias.
Nesse processo de alimentação, retroalimentação e
aprendizagem cabe debater constantemente a pauta da produção de conhecimentos,
a pesquisa de alternativas tecnológicas que erradiquem a fome, as contaminações
de vírus e bactérias que proponha a saúde e a cura, que gere emprego, renda,
qualidade de vida e preserve a biosfera, película muita fina que encobre o
planeta onde ocorre a vida, todo tipo de vida, em consonância às necessidades
das populações e regiões.
Educar é preparar passos para uma nova cultura. Porém,
trata-se antes, em desconstruir as formas de esfacelamento das relações
humanas, em compreender a finitude humana e planetária, quem somos e onde
vivemos. Entender que fazemos parte de um único planeta de vida e com vida.
Entender que somos humanidade, "humos", portanto filhos da Terra que
nos acolhe e possibilita a vida. Um cuidado, não apenas nossa vida, mas toda a manifestação
de vida existente.
A educação para a sustentabilidade e para fatores
emancipatórios não deve ser tratado em separado da orientação para o
estabelecimento de uma carta de navegação para cruzar os mares agitados, anos
difíceis que teremos pela frente. Todas as áreas do
conhecimento científico, da filosofia podem e devem contribuir nesta direção,
pois necessário se faz, mais que agrupar saberes, buscar na origem epistêmica
as questões que tratam de forma ética, a busca de elementos equilibrados de um
modelo de vida e de trabalho, prudente e decente que respeite a vida em todas
suas manifestações.
Trata-se de exercitar
intelectualmente dimensões antecipadoras. Desvendar as possibilidades futuras,
abrindo caminhos para luz que vem do horizonte e que, pelas brechas, começa a
iluminar trilhas ainda não percorridas. Este modelo de educação não pode
impossibilitar outra forma, que não seja o encontro de um lugar no mundo para
todo o mundo.
Em síntese, os que admitem uma educação crítica têm o dever de
construir, fazer coisas belas, e, para tanto, incorporar as melhores
experiências e tendências, dispersas e isoladas, na nova forma de construir o
processo civilizatório do amanhã que comece e se instale em nossas mentes
e em nosso cotidiano.
*Paulo
Bassani é Sociólogo e professor da Universidade Estadual de Londrina
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