ARTIGO -
SEXTA 16 DE JULHO - 15 DE JULHO DE 2021
FOLHA DE LONDRINA - Espaço Aberto
A ardente busca do consumo*

Criou-se a ideia que triunfar na vida é ter para comprar, consumir,
transformarmo-nos em consumidores qualificados e atender às necessidades de
nosso tempo, atender ao ímpeto de consumo como razão do ser e estar no mundo
moderno. Somente assim que nos resumimos e, nada mais, a nosso ver parece ser
uma definição humana de baixíssimo teor, alienante e que não condiz aos
potenciais de nossa condição humana com outras buscas.
Há um poder sedutor do consumo em nossas vidas. Sofremos diariamente
esta ameaça como uma oferta no qual não há muitas saídas para o encontro da
felicidade, e que nossa mensuração de felicidade, infelizmente, está associada
a nossa medida de consumo.
Cada oferta divulgada, propagada pelas mídias, que se efetivam e se
consagram nos call centers, shopping centers, é resultado de uma armadilha
avassaladora que liga e desliga nossa vivência comparativa ao conjunto de
outros atores nesse processo.
Hoje tenho receio daquilo que vejo, e muito mais receio daquilo que não
vejo, daquilo que se esconde, e que movimenta a roda desta economia. Há um
processo constante de bombardeamento de novas necessidades muito mais
vinculadas ao mercado e, pouco de nossas próprias necessidades. Essa confusão
causada e causante é centro de um dilema que carregamos no cotidiano desta alta
modernidade, como afirma Antony Giddens ou modernidade líquida, como queira
Sigmund Bauman.
Diante deste quadro de condenação e prisão paradoxal de consumidores
ideologizados pela lógica dominante, há uma grande armação montada onde seus
marqueteiros orquestram todo esse formato, que se resume da forma expressa
como no ditado popular: “Se fugir o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Apesar da liberdade que temos diante de escolhas, somos limitados pelas
profundas influências massificantes de um quadro conjunto alienado que as
pessoas envolvidas nesse turbilhão estabelecem suas relações. Diante disso, o
que podemos fazer é construir uma consciência que estamos nesse mundo para algo
mais. Para tanto, necessitamos viver de forma ética, responsável, dialógica,
compartilhada, solidária e, assim, que impacte minimamente a natureza de que
dependemos. Isso estabelecerá uma identidade singular diante do consumo, diante
do que escolhemos para viver, do que necessitamos para viver.
Entre a falsa lógica imperante num mercado influenciador de uma força de
consumo e, diante daquilo que compreendemos conscientemente necessário para
viver, com um consumo consciente e responsável.
Nessa instância estão presentes duas abordagens de um novo tempo: a
consciência da necessidade de viver com qualidade e a responsabilidade de que
minha forma de consumir poderá ser maior ou menor nos impactos causadores da
destruição gradativa do patrimônio natural da humanidade que é a
biodiversidade planetária.
*Paulo Bassani é filósofo e sociólogo e Gabriel Barbosa
Bassani é geógrafo em Londrina formado pela UEL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário