6 de março de 2020



Na aridez e dureza do asfalto*

Há flores que brotam !
Há uma imensa angustia para elencar fatores críticos diante de tantas informações, inverdades, contradições e interesses, de como observar e entender a realidade que vivemos.
Da ignorância do passageiro, a inobservância do apressado, da insensibilidade do sapato engraxado, do olhar desatento do estudante mediatizado, do surdo e aguçado ouvido curioso.
Há uma cegueira instalada nas ruas, nas praças, no asfalto...
Mas há flores que brotam...
Deter-se diante dela é entender que há resistência, há força, tanta beleza oculta, nesta pequena e frágil expressão da natureza, que seus códigos nos perturbam.Há flores no asfalto!
Brotam contra tudo, contra todos áridos corações.
Insistem em sobreviver, querem viver...
Do frio e duro asfalto ao aquecimento em curso, a delicadeza poética de suas cores, expressa a luta silenciosa diária para regenerar-se, resistente a seca de valores, as inundações de vazios, dos ventos ocos e do ruído infame.
Seria este um sinal emergente !
Sinal da vida a se expressar no duro asfalto, o qual por entre as brechas, indagações inquietantes, se escondem.
Forjado no duro cotidiano criado por contextos de modos de viver que nos amedrontam.
De peitos endurecidos não percebem a vida na sua finitude, simplicidade e beleza.
Mesmo assim insistem em seus esforços,
Tentando reter o amanhã.
Mas ele há de vir e virá com todo seu brilho e esplendor.
Pois é assim que nascem e se realizam as utopias,
Por entre as frestas do duro asfalto.


*Paulo Bassani é Sociólogo Ambiental, Professor da UEL

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