15 de setembro de 2019


A universidade como palco civilizatório *
A universidade pública ainda é o palco dos grandes estudos e debates civilizatórios. A universidade pública é o laboratório social da sociedade, onde numa alquimia de ideias, de revisão do passado, análise do presente e de construção do amanhã emergem.  Ela é uma das últimas instâncias éticas de um debate sério, atento e preocupado com os destinos da humanidade e do planeta que nos acolhe.
Sempre atento aos movimentos da sociedade, seus espaços de construção científica e filosófica, erguem-se como construções mentais com uma força fundamental: a de arejar as ideias que conduzam a práticas para a construção de um mundo melhor. A universidade abre janelas para que haja a visualização de um futuro comum para a humanidade, onde as possibilidades de viver de forma solidária, colaborativa, democrática, sejam os princípios norteadores de tudo o que se pensa e de tudo que faz.
Não podemos aceitar a negação da ciência que nos trouxe até este estágio civilizacional, ela, sempre que conduzida de forma profunda e ética poderá garantir a permanência da espécie pensante, imaginativa e criativa. Tão pouco negarmos a filosofia que nos preservou a manter ideias éticas e valores civilizacionais, dificultando o avanço da cretinice. Não podemos permitir que a cegueira de alguns apague as possibilidades concretas e utópicas de muitos, negando assim um amanhã para todos. Por isso que, mesmo com inúmeros problemas, a universidade ainda e, por muito tempo será, a representante desta claridade diante da escuridão que pretende se instalar.
Neste momento que há um descontentamento, por parte da população, com os sistemas políticos constituídos, não podemos admitir que as diferenças nas condições básicas da vida cresçam, se ampliem, pelo contrário, em tudo devemos nos empenhar para acabar com estas diferenças.
Aceitar que a lógica do mercado domine toda a vida social, nos parece algo atrofiante. A universidade analisa e se situa para além da superfície do mercado e da sociedade instalada. Ela consegue ir às profundezas, assim como sobrevoar sobre ela, sem perder sua conexão.
Este procedimento tem como fim, debater as premissas, os espaços, as formas de organização contemporâneas e abrir possibilidades. Se há uma cegueira social em curso, resultado da alienação dos homens em relação a eles mesmos, típica desta alta modernidade, é a universidade, que por essência, deve debater as causas desta, como um espaço reflexivo de criações intelectuais que possibilita entender como e, até que ponto, nos cegamos e, no limite, percebermos as possibilidades de recuperarmos a visão.
*Paulo Bassani, Sociólogo,Coordenador do GEAMA,professor da Universidade Estadual de Londrina.


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