Reflexões de nosso tempo, a universidade como palco
civilizatório *
A universidade
pública ainda é o palco dos grandes estudos e debates civilizatórios. A
universidade pública é o laboratório social da sociedade, onde numa alquimia
ideias, de revisão do passado, análise do presente e de construção do amanhã
emergem. Ela é uma das últimas instâncias éticas de um debate sério, atento e
preocupado com os destinos da humanidade e do planeta que nos acolhe.
Sempre atento aos movimentos da
sociedade, seus espaços de construção científica e filosófica, erguem-se como
construções mentais com uma força fundamental: a de arejar as ideias que
conduzam a práticas para a construção de um mundo melhor. A universidade abre
janelas para que haja a visualização de um futuro comum para a humanidade, onde
as possibilidades de viver de forma solidária, colaborativa, democrática, sejam
os princípios norteadores de tudo o que se pensa e de tudo que faz.
Não podemos aceitar a negação da ciência que nos
trouxe até este estágio civilizacional, ela, sempre que conduzida de forma
profunda e ética poderá garantir a permanência da espécie pensante, imaginativa
e criativa. Tão pouco negarmos a filosofia que nos preservou a manter ideias éticas
e valores civilizacionais, dificultando o avanço da cretinice. Não podemos
permitir que a cegueira de alguns apague as possibilidades concretas e utópicas
de muitos, negando assim um amanhã para todos. Por isso que, mesmo com inúmeros
problemas, a universidade ainda e, por muito tempo será, a representante desta
claridade diante da escuridão que pretende se instalar.
Neste momento que há um descontentamento, por parte da
população, com os sistemas políticos constituídos, não podemos admitir que as
diferenças nas condições básicas da vida cresçam, se ampliem, pelo contrário,
em tudo devemos nos empenhar para acabar com estas diferenças.
Aceitar que a lógica do mercado domine toda a vida
social, nos parece algo atrofiante. A universidade analisa e se situa para além
da superfície do mercado e da sociedade instalada. Ela consegue ir às
profundezas, assim como sobrevoar sobre ela, sem perder sua conexão. Este
procedimento tem como fim, debater as premissas, os espaços, as formas de
organização contemporâneas e abrir possibilidades. Se há uma cegueira social em
curso, resultado da alienação dos homens em relação a eles mesmos, típica desta
alta modernidade, é a universidade, que por essência, deve debater as causas
desta, como um espaço reflexivo de criações intelectuais que possibilita entender
como e, até que ponto, nos cegamos e, no limite, percebermos as possibilidades
de recuperarmos a visão.
*Prof. Paulo Bassani, Sociólogo e Professor da UEL
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